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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Choque cultural – Sapatos na Coreia

No último post, quando eu contei como conheci meu marido, comentei sobre algumas coisas curiosas no nosso relacionamento por causa do choque cultural. Na verdade, no nosso primeiro encontro, em Madri, já cometi uma gafe. Estava toda empolgada planejando o presente que daria para ele, comprei umas caixinhas lindas em formato de coração, escrevi várias mensagens fofas, separei bichinhos de pelúcia. Além disso, como a Havaianas é uma marca brasileira famosa, imaginei que seria um tipo de lembrança perfeita. Quando entreguei para ele, percebi que ficou meio sem graça e disse que tinha gostado, mas que teria que dar para um amigo. Na hora, me espantei com a reação, mas depois entendi o motivo: na Coreia, acredita-se que presentear namorado/a com sapatos dá azar (um pouco parecido com a ideia no Brasil de dar perfume, mas os coreanos levam essa superstição bem a sério). Eles dizem que, se você der, seu amor pode fugir de você para sempre.

Em Madri, Jerry recusou minhas Havaianas de presente, mas o erro foi meu

Isso foi em 2011. Mas, ano passado, quando fui morar na Coreia, o Jerry insistiu que eu precisava de um tênis novo para o inverno porque, de acordo com ele, o que eu tinha levado ia me fazer congelar. Então, ele me levou para 중앙로 (Jungang-no), que é a rua de Daejeon onde estão quase todas as sedes das grandes marcas de lojas de sapato (Adidas, Nike, Reebok, Puma, entre outras). Eu esqueci de novo da superstição coreana e achei que ele iria me dar de presente, mas, assim que chegamos lá, ele veio me dizer que precisávamos passar no banco para eu tirar dinheiro e pagar pelo par. E eu nem queria comprar nada, mas entendi e aceitei. Aí, surgiu outro problema: eu descobri que não seria tão fácil achar algo que coubesse em mim. No Brasil, eu calço 38 (entre o tamanho 255 e 260 coreano), mas, na Coreia, sapato feminino não passa do nosso 36 (ou 240).

                Entramos em todas as lojas, vasculhamos cada canto, mas os modelos mais bonitos e/ou baratos não tinham no meu número. Um atendente disse, entre risos, que era melhor eu procurar na seção masculina. Ou seja, fui chamada indiretamente de pé grande. A reação de todos quando eu dizia meu tamanho era a mesma: ficavam espantados, como se perguntassem “Isso tudo?”. Depois de horas de busca, desistimos naquele dia e resolvemos voltar depois, porque, na Adidas, disseram que chegaria um novo modelo que talvez coubesse em mim. Fizemos isso e, no outro dia, percebi que eles só tinham o 250 (ou o nosso 37). Como eu não queria ser obrigada a comprar tênis em loja especial, aceitei esse mesmo, embora tivesse ficado um pouquinho apertado.

Os tênis adquiridos na Adidas, um número menor que meu pé

                Outro dilema com sapatos foi para meu casamento. Na sessão de fotos, como a escolha das roupas foi feita no mesmo dia do ensaio, eles me perguntaram apenas 50 minutos antes quanto eu calçava. Quando respondi, percebi que ficaram atônitos. Começaram uma busca incessante, porque parece que eles só tinham um sapato daquele tamanho e, como ninguém usava, não sabiam onde estava. O pior foi no dia da cerimônia. Eles realmente não tinham meu número e disseram que o maior modelo disponível era um 240 (nosso 36) e que eu teria que usar aquele mesmo ou comprar outro com urgência. E não sei se eu já disse antes, mas, como meu marido estava trabalhando na Nigéria, fizemos a festa durante as férias dele. Então, tivemos menos de uma semana para preparar quase tudo e, inclusive, para escolher meu vestido de noiva. Resultado: casei com um sapato bem menor que o meu pé.

Sessão de fotos com o único sapato que era exatamente do meu número

                Bom, já deu para perceber que a relação Coreia-eu-sapato é muito turbulenta. E, quando se trata de roupa, o negócio fica muito pior, mas vou deixar para falar disso outro dia. Minha sogra, coitada, sofreu para comprar presentes para mim. Sempre tinha que devolver tudo. É triste admitir, mas, no inverno, eu fui obrigada a vestir apenas calças masculinas (como as da foto). E, em relação aos sapatos, teve ainda um dia em que a gente foi fazer trilha e escalada e eu usei o tênis de montanha da mãe do Jerry. Ela calça dois números a menos que eu. Nem preciso dizer que acabei com o meu pé todo. Enfim, a Coreia me fez perceber o quanto eu sou gorda e tenho pezão. Só tenho a agradecer a esse povo que ajuda a conservar minha (baixa) autoestima.    

Eu vestida no estilo "ajhuma", com tênis de montanha pequenos para mim

19 comentários:

  1. ain cara que dó, sua relação com sapatos deve ser péssima, eu acho que se fosse pra lá, não teria problemas ja que sou homem e calço 275/280, só quero dizer que conheci teu blog agora mesmo e estou amando absolutamente tudo, é tão bom saber que vc mora ai, e que encontrou alguem te ama e que vc ama dai, é meio que loco e legau ao mesmo tempo.

    Quero dizer apenas que amei o blog e que acompanharei ele. 화이팅.

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    1. Foi traumatizante, Kiritsu. E valeu por acompanhar meu blog. Se tiver alguma dúvida ou assunto que acha que vale a pena fazer um post, me avise. ;)

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  2. Nossa...deve ser muito chato ter tanta dificuldade pra conseguir roupas, principalmente usar sapatos que machucam. T.T Eu não suporto sapatos machucando o pé. Mas é muito bonito ver que as diferenças culturais e dificuldades do dia-a-dia não são nada perto do amor de vocês. Estou curtindo muito seu blog.

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    1. Também não gosto quando machuca, mas, na falta de opção, a gente tem que usar, né? E que bom que gostou do blog. :(

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  3. Nossa!!

    Jamais poderia ir para a Coreia. Tenho 1,80m e calço 41. Herdei tudo da parte portuguesa da família (altura e pés grandes). Credo!!

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    1. Meu Deus. Já deve ser difícil de achar sapatos até no Brasil ou em Portugal, né? Na Coreia, também tem lugar que faz sapato sob medida também. ^^

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  4. Caramba, esse negócio de sapato é chato mesmo! Eu calço 37, será que sofreria um pouco? kkk

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  5. Gente, eu no Brasil que tenho problemas pra achar tamanho 34 pelo jeito na Coréia não teria problemas hehe

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  6. Ai eu também calço 38 e quero ir para Coréia 😦

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  7. Que legal esse seu blog! Não sei se o usa ainda, mas tenho muito interesse na cultura coreana. Desde que conheci o famoso "kpop", que não consigo deixar de querer visitar. Não sei se moraria, pq ja ouvi dizer que tem coisas mto rígidas, mas visitar seria ótimo. Normalmente calço 38, mas ainda dá certo. Tem calçados que chegam a 39, dependendo da forma, mas são mais havaianas. Familia de pé grande a minha 😂

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  8. Se eu for para a Coreia, alguém por favor me lembra de levar sapatos apropriados porque eu calço 39. Ia ser complicado achar por lá.

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  9. Jesus, estaria perdida na Coreia teria que levar todos meus pares daqui...calço 41 ou 40 com forma grande.

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  10. Bom, vir esse blog agora e gostei de saber mais sobre isso assim eu não ficarei perdida kakkaa.. E eu acho que não estaria perdida na Coréia pois eu uso 36(240) se esse é o máximo do número feminino na Coréia eu estaria no lucro kakaka mas eu acho tão estranho as mulheres nascerem tão pequenas e os homens gigantes kakaka...

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  11. Se um dia eu me mudasse para a Cor÷ia estaria lascada. Se no Brasil eu calço 43 (feminino) e passo aperto.... imagina lá. Seria só sapato masculino e olhe lá!.

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  12. Pois é pessoal. Sem saber , casarei no próximo ano na Coréia e levarei meu vestido e sapato,ou seja sapatos. Não quero correr o risco de não achar um 250(37) aqui

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  13. Será que acha no tamanho trinta e sete (25 na Coréia)?

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  14. Nossa isso é realmente triste cara
    Calço 38 e 39 e tenho 15 anos

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