Pode parecer meio louco, mas já faz dois anos que eu e meu
marido (na época, ainda noivo) já tínhamos decidido como nossa futura filha
iria se chamar. Escolhemos o nome Hana (하나) por
significar “primeira” em coreano e por soar bem em português. Quando descobri
que estava grávida, ainda sem saber o sexo, comecei a pensar também em alguma
opção masculina que pudesse ser genérica para os dois países. Na tentativa de
formular nomes e mais nomes, percebi que não seria tão fácil assim. Quando mostrei
a lista que havia feito para a minha sogra, ela gargalhou e veio me explicar
que, sendo homem, o bebê teria que seguir a tradição da família e ter a sílaba
“seob (섭)” no final
do nome, assim como as outras crianças da mesma geração. Resumindo, o menino, sendo tanto brasileiro quanto coreano, precisa ter
dois registros com nomes diferentes, o que não seria necessário se fosse
menina.
Nomes coreanos têm apenas três sílabas, sendo a primeira delas o sobrenome |
Foi quando eu constatei o quanto os clãs ou shijok (씨족) são importantes na Coreia. Os
coreanos são um dos povos que mais preserva suas raízes e essa noção de
ancestralidade. E se dividem nesses grupos. Meu marido disse que eles sabem
exatamente a que geração da família pertencem pelo nome e isso fica registrado em um
livro, em que vão acrescentando os novos integrantes de acordo com o
nascimento dos filhos, netos, bisnetos. Cada homem que nasce dá continuidade ao
clã. Há, assim, uma tradição de que o primeiro filho seja, preferencialmente,
do sexo masculino, já que, culturalmente, a mulher passa a pertencer ao clã de
seu marido quando se casar. E, infelizmente, existem mais homens que mulheres na
Coreia porque a quantidade de abortos é ainda grande quando descobrem que é
menina. Por isso que o obstetra coreano relutava
em me dizer o sexo do meu bebê e, foi com alívio na voz, que anunciou que era menino.
No "Parque das Raízes" (뿌리 공원), o símbolo do clã do meu marido |
Aí, surgiu a questão de escolher o nome da criança, o que não
tinha muitas opções, já que havia sido escolhida a última sílaba do nome dele. Sendo
o meu bebê integrante da 32ª geração dos Choi (최ou 崔), todos os seus primos e irmãos teriam que
incluir no nome o Seob (섭 ou燮),
que significa harmonia ou combinação. O problema é que há poucas combinações
legais com essa sílaba. E acabou sendo escolhido o nome Min Seob (민섭). Esse sistema é adotado
para indicar as gerações de cada clã, tornando mais fácil o resgate das
histórias deles. E isso diz muito sobre um povo marcado pela “cultura do
coletivo”, que sempre pensa no conjunto. E aí, o bebê, nascendo no Brasil, levaria o
nome que eu escolhesse, que no caso foi Alan (soa que nem em inglês), por ser
uma opção mais internacional. Como temos planos de morar em outros países,
achei que seria a alternativa ideal.
Como formar nomes coreanos
É engraçado que nunca disse
isso, mas existe uma métrica para formar nomes coreanos. O meu, por exemplo,
tem quatro sílabas, o que é considerado muito longo para o estilo deles, que
segue um padrão definido bem curtinho, super diferente do que a gente tem como
referência: primeiro, vem o sobrenome da família do pai, ou nome do clã, de apenas
uma sílaba, como Lee (이), Kim (김), Park (박), Choi (최), etc.; em seguida, aparece o nome, que pode ter até duas
sílabas, mas existem alguns com apenas uma e, em casos raros, com três,
embora não sejam muito aceitos por eles, por serem considerados “difíceis”. Coreanos
têm um pouco de aversão a nomes longos. Por isso, o meu foi reduzido a A-ri-an (아리안),
embora minha sogra me chame de A-ri-a (아리아).
Quanto menor, melhor.
Uma nova tendência, no entanto, tem
surgido com a influência da cultura europeia e americana na Coreia. Para as
meninas, nomes como Suzi e Jéssica têm se tornado mais comuns. Em relação aos
homens, por causa daquela questão do clã, eles inventam um nome em inglês ou
outro idioma quando conversam com estrangeiros. Meu marido, por exemplo, eu
conheci como Jerry, mas o nome dele na Coreia é Byung Kyoun (병균), que foi escolhido na mesma linha da
geração do clã (todos os primos levam esse Byung no nome), e foi causa de muito bullying na infância dele, porque essa
palavra significa exatamente germes ou vírus. Tadinho, toda vez que a gente ia em
alguma consulta médica na Coreia e eu entrava com ele, éramos obrigados a ouvir
dos médicos alguma piadinha com o nome dele. Fico pensando como deve ter sido
quando ele era menor.
Nomes ocidentais como Jéssica têm sido mais comuns na Coreia |
Enfim, já sabe que se você conheceu um coreano chamado
Matt, Jack, Juan ou qualquer coisa parecida, provavelmente, ele inventou ou recebeu sugestão de algum professor de inglês. A minha cunhada, por
exemplo, se apresentou como Reese, embora o nome verdadeiro dela seja outro. Confesso
que eu ainda não decorei como ela se chama porque, até para mim que estou
aprendendo o idioma, os nomes coreanos são muito complexos. Foi um sacrifício
decorar os nomes dos meus professores. E meus colegas chineses? É engraçado que
existe uma regra também para converter os nomes chineses para o coreano.
Na Coreia, eles costumavam usar antigamente os mesmos
caracteres dos chineses. Mas, há mais de 600 anos, um rei criou o hangeul (한글), sistema de escrita coreano,
cuja data de criação é tão importante que virou feriado na Coreia (e foi nesse
mês, dia 9 de outubro) [ver foto]. Isso significa que os coreanos ainda aprendem na escola
esse sistema chinês, chamado de hanja (한자), só que a forma de leitura foi adaptada ao idioma deles, ou
seja, tem um som diferente. Por isso, quando os chineses vão para a Coreia,
eles passam a ser chamados pela forma como se lê lá. Assim, minha amiga 雪霞 (Xue Xia) ganhou o nome de Seol-ha (설하) na Coreia; Lin Zin virou Im Jong (임정) ; Wan Yin passou a se chamar
Man-eun (만은). Raros
são os nomes que mantêm a pronúncia do chinês, que é muuuuito diferente da
coreana. Por isso, para quem achava que era a mesma coisa, eu já aviso que não
é.
Evento promovido pela prefeitura de Daejeon no dia do Hangeul em 2013 |
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Bom, desculpa ter demorado tanto
(mais de um mês) para postar algo novo, mas é que a rotina cuidando praticamente sozinha de
um bebê recém-nascido, somada ao trabalho home office e aos estudos da faculdade estão um
pouco puxado para mim. Mas, agora que eu já me adaptei e que meu pequenino está
quase com um mês de idade, acho que consigo postar com mais frequência. Semana
que vem, explico como faz para registrar um baby nos dois países e, talvez,
mais para frente, em relação a como obter a nacionalidade coreana. Além disso,
agora estou atualizando o site BrazilKorea e fiz um post parecido com esse lá.
Quem quiser conferir, é só acessar aqui.
Parabéns pelo blog! Está ótimo!
ResponderExcluirValeu, Bruno! ;)
ExcluirLindo amiga!! Sempre me divirto lendo! Parabéns!!
ExcluirSozinha entre aspas, Luciane. Estou morando com meu pai, no Brasil, enquanto o Jerry trabalha na África. Só volto para a Coreia ano que vem. E obrigada! :D
ResponderExcluirOi
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