Essa é uma pergunta que me fazem bastante. Alguns, já
afirmam isso com todas as letras, não somente indagam. Mas, como eu odeio
generalizações e acredito que não podemos ver a outra cultura sob o nosso ponto
de vista, decidi refletir sobre algumas considerações a respeito do povo
coreano e de alguns outros países asiáticos, como Japão ou China.
Depois que comecei a passear com meu bebê pela Coreia, reparei
que as pessoas no geral adoram mexer com crianças, fazer a brincadeira de “achou!”
(까꿍 놀이),
em que eles falam “kakung” enquanto escondem o rosto. E quase sempre tendem a
pedir para segurar a criança ou até a tirar o bebê do colo da mãe sem aviso
prévio (é, isso aconteceu mais de uma vez!). Eles costumam fazer barulhinhos e
até mandar beijinhos de vez em quando. Isso mostra que não tem tanta “frieza”
assim.
Meus sogros comemorando os 8 meses do neto |
Mas é necessário entender dois pontos importantes:
Beijos e abraços X
inclinar-se: Cada país ou cultura tem regras sociais
específicas quando lidamos com outras pessoas, algo inerente a cada local. E, até dentro do Brasil, há algumas diferenças. Geralmente, cariocas se cumprimentam
com dois beijinhos. Paulistas, com um só. Abraços são outra saudação comum
entre os brasileiros. Na Coreia, não espere que eles saiam te beijando ou
abraçando do nada. Não é algo que faz parte da cultura coreana.
Beijinho no rosto é cumprimento em vários países ocidentais Foto: AG News |
Meu marido, quando fez intercâmbio na Inglaterra em 2009, foi
no estilo “home stay”, ou seja, ficou em casa de família. E ele me contou que a “host
mother” (a dona da casa onde ele se alojou) dele o recebeu com beijos e abraços
no aeroporto. Era a primeira vez dele fora da Ásia (já tinha morado no Japão e visitado a Tailândia). O choque foi tão grande
que ele demorou dias para se recuperar disso.
Até porque ele diz que a única vez que se lembra de sua mãe tê-lo abraçado foi no dia que ele voltou do Exército depois de ficar servindo
na fronteira com a Coreia do Norte durante dois anos, tempo em que eles
geralmente ficam isolados e longe da família. Com isso, dá para perceber que
não é comum que os coreanos se abracem.
Quando assistimos doramas (novelas asiáticas), podemos reparar
que, pelas características culturais, um abraço, por ser raro, toma uma
significação bem diferente. É quase o ápice de algumas cenas românticas. E acaba
sendo mais valorizado e tendo mais valor sentimental para aqueles que fazem. Como,
no Brasil, às vezes, abraçamos até desconhecidos, podemos deixar passar um
pouco da importância desse ato.
Abraços por trás são os mais comuns nas novelas coreanas. Cenas de "Love Rain" (cima) e Goong (baixo) |
“Ah, mas isso quer dizer que eles são frios”, poderiam
pensar algumas pessoas. Não exatamente. Eles podem ser muito calorosos algumas
vezes sem necessitar do toque ou do contato físico para isso. A demonstração de
carinho e afeto acontece de outra forma. A principal saudação na Coreia é a
questão de se inclinar. Quanto mais baixa é a reverência, mais admiração você demonstra.
No dia a dia, os coreanos também incorporaram o gesto de
acenar com as mãos para cumprimentar um ao outro, mas a forma mais aceita entre
amigos e/ou pessoas próximas é apenas abaixar a cabeça um pouco (cerca de 15º).
Se for uma situação um pouco mais formal, frente a pessoas mais velhas ou de
hierarquia superior, é preciso curvar-se cerca de 30º. E em casos extremamente
formais, como no trabalho, próximo a um ancião, o cumprimento chega a um ângulo
de 45º.
Foto: http://careerpark.jp |
Exemplos de dois tipos de reverências em funerais Fotos: http://m.blog.daum.net |
Coreanos são mais “fechados”
que os brasileiros: A simpatia do
povo brasileiro é considerada uma marca nacional. Muita gente no Brasil
consegue se abrir facilmente, puxar conversas na fila do banco com
desconhecidos, fazer amizade logo no primeiro encontro. O coreano, na maioria
das vezes, não é assim. O seu vizinho talvez nunca te cumprimente,
principalmente se você for estrangeiro não-asiático, como eu disse num post anterior, já que há um pouco de receio quando há pessoas de aparência diferente.
Mas, ao mesmo tempo, por também terem essa característica mais reservada, eles não são do tipo que sorriem para estranhos (inclusive outros
asiáticos) na rua, como vejo muitos brasileiros fazendo de vez em quando. É bom
lembrar que nem todo mundo no Brasil também é assim e que é possível encontrar
coreanos que vão te cumprimentar todo dia no elevador do seu prédio. As ajhumas
(senhoras coreanas), por exemplo, podem te bater e depois te acolher.
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Como eu já disse, vamos tentar não generalizar. Mesmo entre
os coreanos, há gente que age diferentemente da maioria. A minha sogra me
disse: “Coreanos não costumam beijar nem os filhos”. Mas eu vi o meu sogro
beijando o neto diversas vezes. Por isso, a afirmação de que coreano é frio é
um mito, que só pode ser quebrado depois que você passa a conviver de perto e
entender o comportamento dos coreanos a partir da realidade deles. E é uma ótima
experiência antropológica.