Nossa,
realmente me superei dessa vez. Fiquei mais de duas semanas sem escrever nada e
parte da culpa é do meu laptop, que teve um pequeno problema de memória cheia.
Acho que ele não aguentou a imensa quantidade de fotos que eu tirei esses dias.
A questão é que, durante esse tempo, fiz tanta coisa que nem sei por onde
começar. Participei de mais festivais; fui a show gratuito das Crayon Pop, que
só têm uma música grude de sucesso (chamada Papapa); fiz parte do Dia do Hageul
(sistema de escrita da península); apareci na TV; tive crise de abstinência de açaí, ainda completei mais um rio do 4Rivers – o Yeongsangang
– e passei meu recorde diário de pedalada de 100km para 148km. Além disso, dia 8 de outubro fez um mês desde que cheguei à Coreia e nem comprei um bolo para comemorar.
Acima de
tudo, meu tempo estava curto também porque tive muito o que estudar para as provas
mensais do curso de coreano. Pelo menos, meu esforço foi recompensado. O resultado foi
que entrei em segundo lugar no ranking dos melhores alunos da turma, com uma
média de 95%, apenas atrás da Imjong, uma das chinesas da sala que tirou 98%. E
eu achei que seria pior, principalmente porque foram dois dias de exames, quase
4h cada, sendo “fala” e “escrita” na segunda-feira e “gramática”, “interpretação de
texto” e “escuta” na terça-feira. O que ajudou também foi que, para melhorar minhas habilidades no idioma, decidi
começar na semana passada aulas gratuitas extras de coreano oferecidas por um
órgão do governo chamado Daejeon
International Community Center (DICC). Então, toda segunda e terça, saio 13h
correndo da universidade de Chungnam para chegar às 14h ao DICC – que é meio
longe - para mais quatro horas de estudo semanais.
E foi
quando eu entrei para o DICC que me dei conta de que o número quatro tem me
perseguido na Coreia. Na faculdade, todas as salas de aula do curso de coreano
para estrangeiros são no quarto andar. E o mesmo acontece com o curso do DICC,
o que é muito engraçado, visto que a tetrafobia é um pouco forte aqui. Em
muitos países orientais, as pessoas têm aversão ao número quatro. É uma superstição
comum na China, Japão, Taiwan, Malásia, Singapura e Vietnã. E tudo porque os
caracteres chineses para quatro têm som muito semelhante à palavra morte,
o que também acontece com as palavras japonesa e coreana. No Japão, para não
dizer a palavra quatro do mal, eles têm uma outra leitura para o mesmo número.
Por esse
motivo, na Coreia, assim como nos países acima citados, para evitar essa aparição
desagradável, quase não se vê o quarto andar em edifícios públicos. E eu acho
estranho olhar para um elevador em que falta um número. O mesmo vale para 14,
24 e todas as combinações que contenham o algarismo. No condomínio em que estou
morando aqui, observei logo no início que os prédios eram numerados com algumas
falhas na contagem, como se vê na foto abaixo. Reparem que não existe 104 nem 114.
E, na universidade, embora eles coloquem todos os estrangeiros no quarto andar
(tipo: morram todos), as salas geralmente pulam as terminações com o temido
algarismo. E olha que a tetrafobia por
aqui não é tão extrema. Imagina se fosse...
Essas
superstições levaram minha amiga alemã, Julia Dumin, a pensar que é super
azarada. Outro dia, estava tendo uma feira de carreira voltada para os alunos
da Engenharia no campus da Chungnam National University (CNU). Eu, como sou
curiosa, decidi participar e convidei Julia e uma outra colega chinesa, a Xie
Xue Xia, para fazer algumas das atividades. Havia uma brincadeira que dava
prêmios se você acertasse o alvo. Assim que vi, corri com elas para jogar e checar se conseguiamos algo. Havia brindes para quase todos os números, menos o 0 e o
4. Eu e Xie Xua acertamos o 3 e ganhamos um lencinho umedecido, mas o dardo da
Julia foi parar logo no 4. Só que ela não sabia da tetrafobia e ficou toda
triste pensando por que, mesmo sendo um algarismo a mais que o nosso, ela não
ganhou nada. Isso significa que o número, além de causar medo, ainda pode te
dar prejuízo. Que morra o quatro!