Toda vez que digo que meu marido é coreano, as pessoas logo
ficam curiosas para saber como a gente se conheceu, em que idioma se comunica,
entre outras coisas. Nossa história é um pouco inusitada e só deu certo por
muito esforço de ambos (mais dele do que meu, na verdade). Hoje, dia 15 de
agosto, a gente completa cinco anos desde nosso primeiro bate-papo online e
três anos que nos encontramos pessoalmente pela primeira vez. Para comemorar
esse marco, fiz uma retrospectiva da nossa biografia e vou contar isso por meio
das perguntas mais comuns que eu escuto de amigos e até desconhecidos:
Como vocês se conheceram?
Quem nos uniu foi a Internet, em agosto de 2009, assim que
eu comecei o curso de japonês no CLAC da UFRJ. E foi uma super coincidência,
porque eu simplesmente estava querendo praticar mais a língua e digitei no
Google: “aprendizado de idiomas gratuito”.
A primeira opção que apareceu foi o Live Mocha, uma rede social em que
falantes nativos da língua que você quer estudar corrigem seus exercícios e interagem
com você.
Depois de uns cinco dias de uso, conheci muita gente nova,
com quem falava mais em inglês do que japonês (até porque eu ainda era
iniciante neste último). E, dentre os japoneses, chineses, americanos,
britânicos, argentinos, indianos e quenianos, estava o Jerry, único coreano da
lista. Ele é graduado em japonês e havia morado no país por um ano. Além disso,
estava indo fazer um intercâmbio na Inglaterra em alguns meses. Por isso,
queria me ajudar e, ao mesmo tempo, praticar inglês.
Mas por que aprender japonês?
Uma pessoa que certamente influenciou nisso foi minha amiga
de faculdade, Rafaela. Até 2007, eu não tinha nenhum interesse pelo Oriente. Só
tinha visões estereotipadas e considerava nerd
todo mundo que gostava de animes, mangás e cultura japonesa. Mas, depois que
essa amiga me apresentou as novelas orientais, chamadas de doramas, comecei a
ter uma profunda admiração, primeiramente pelos japoneses e, mais tarde, por
taiwaneses, coreanos e chineses. Então, assim que terminei o curso de espanhol,
corri para aprender japonês. Da parte dele, quem indicou o Live Mocha foi um
amigo, nosso outro cupido.
E como esse relacionamento saiu da
Internet?
Depois de conversar por uns seis meses, percebemos um
interesse maior um pelo outro, mesmo que fosse um relacionamento apenas online.
A gente se falava diariamente e confidenciávamos as partes boas e ruins do
nosso dia. Ele, com as dificuldades e aprendizados do intercâmbio e eu, com meu
curso de japonês, trabalho (na época com tradução), faculdade de Jornalismo e
assuntos diversos. Depois de mais ou menos um ano, passamos a nos corresponder
por cartas e até a enviar pequenos mimos de presente (fotos). Ele me pediu em namoro e
eu aceitei, mas, ao mesmo tempo, tinha medo de que não passasse da Internet.
Primeiro presente que recebi dele, antes de nos conhecermos pessoalmente |
Mimo recebido no Valentine's Day |
Presente de Natal que eu mandei |
No início de 2011, depois de economizar bastante, resolvi
que faria, em agosto, minha primeira viagem internacional para Madri, capital
espanhola, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento católico. Quando
avisei a ele, ficou tão animado porque seria a oportunidade ideal para a gente
se encontrar, e, mesmo que ele não seguisse a mesma religião, participou de
tudo comigo. A expectativa do evento e, ao mesmo tempo, de encontrá-lo, era
grande. E isso aconteceu no dia 15 de agosto, que coincidentemente também era a
data em que começamos a nos falar pela Internet.
Nossa primeira foto juntos |
Em Madri, quando nos conhecemos pela primeira vez |
O que seus pais achavam disso?
Minha mãe sempre foi muito
incentivadora de meus relacionamentos online. Com 15 anos, eu conheci meu
primeiro namorado pela Internet e ela participou de todo o processo desde a ler
minhas conversas com ele até me levar para Volta Redonda, cidade onde ele
morava, para conhecê-lo pessoalmente. Em relação ao Jerry, eu tinha contado
sobre ele, mas nesse caso, ela ficou um pouco mais apreensiva por ser
estrangeiro, não conhecer aspectos culturais do país e, principalmente, pela
distância.
A primeira vez que recebi uma correspondência dele lá em
casa foi tão engraçado que meus pais acharam que era uma bomba (ainda mais que
a caixa estava cheia de escritos em coreano, que, para eles, eram algum código
mortífero ou sei lá o que). Minha mãe disse que a gente só abriria na praia de
Saquarema e, qualquer coisa, tacava no mar. Mas eram apenas chocolates e doces,
para a nossa alegria!
A "bomba" enviada por ele |
Quando nos encontramos pessoalmente, em Madri, tinha medo
de que eles não me deixassem ir se eu contasse que ele iria estar lá. Então, só
dei a notícia para meus pais no dia em que estava partindo. Eles ficaram meio
chateados comigo pela falta de confiança, mas, depois, me perdoaram. Até
receberam ele na minha casa no ano seguinte e em 2013, nas quatro vezes em que
ele veio para o Brasil.
No Pão de Açucar |
Marquês de Sapucaí durante o Carnaval carioca |
Em que idioma vocês se falam?
Embora eu esteja aprendendo coreano e ele português, ainda
nos comunicamos basicamente em inglês. Mas, com os meus sogros, sou obrigada a
falar coreano e ele tem que se virar no português para entender minha família.
Depois do primeiro encontro, como
continuaram com esse relacionamento à distância?
Ficamos juntos por uns dez dias em Madri, participando do
evento. Depois disso, ele voltou para a Coreia e eu vim para o Brasil. No mês
seguinte, ele começou a trabalhar num projeto da Hyundai em Abu Dhabi, nos
Emirados Árabes. E, como tinha direito a férias de três em três meses, resolveu
passar esse tempo no Brasil para passear e estudar português. A empresa pagava
pela passagem aérea, o que fazia com que a viagem não saísse tão cara.
Natal em família na minha casa |
Passeio para Saquarema, Região dos Lagos (RJ) |
Escadaria Selaron na Lapa (RJ) |
MAC em Niterói (RJ) |
Desde nosso segundo encontro, ele me deu um anel de noivado
e decidimos casar em um ano ou dois. No final de 2012, ele se demitiu da Hyundai
com planos de morar no Brasil. E, antes disso, planejamos uma viagem para eu
conhecer a Coreia. Ele foi um fofo, saiu de Abu Dhabi, veio me buscar em casa
(loucura) e partimos para o país dele, onde fiquei hospedada na casa dos meus
sogros por quase um mês. Depois, voltamos juntos para o Brasil.
Anel de compromisso que ele me deu em Madri |
Em Dubai, durante conexão para Coreia |
O problema é que o verão carioca e a nossa comida
extremamente salgada fizeram mal a ele. Ele decidiu, então, ir para a Coreia,
com data marcada para voltar ao Brasil em junho de 2013. Foi quando começamos a
agilizar o nosso casamento. Mas a morte da minha mãe, em agosto, nos deixou
abalados e ele me chamou para passar um período na Coreia, estudar em alguma
universidade de lá e depois voltar para terminar minha faculdade no Brasil.
Estúdio de Jornalismo da SBS, emissora coreana onde minha cunhada trabalha |
Cadeados na Seoul Tower |
Passeio para Kyoto, Japão |
Quais são os planos para o futuro? Brasil
ou Coreia?
Talvez, nenhum dos dois. Agora que casamos, ele está trabalhando na Nigéria (é isso
mesmo, onde estão acontecendo casos do vírus ebola), e, como eu não podia ir
com ele, estou de volta ao Brasil para me formar em História e depois voltar
para a Coreia. Temos planos, no entanto, de morar em algum outro lugar,
provavelmente Canadá ou Austrália, mas vamos esperar as oportunidades que
surgirem. Como ele tem muita experiência de trabalho no exterior, não deve ser
tão difícil.
Sessão de fotos do nosso casamento |
Lua de mel em Boracay, Filipinas |
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Essa foi basicamente nossa história. Depois, faço outro
post sobre algumas curiosidades em relação a choques culturais da relação entre
pessoas de dois países tão diferentes, como por exemplo, mancadas que cometemos
um com outro por falta de conhecimento das tradições e costumes de cada um. Temos
muitos casos engraçados e constrangedores, mas vou deixar para falar disso em outro
momento.