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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Isso que é transporte público! – Parte 2 (T-Money, o "Bilhete Único" coreano)

Pagar o táxi (ou até o ingresso para um parque de diversões) com “Bilhete Único”. Fazer cinco integrações pelo valor de apenas uma tarifa. Usar o cartão de crédito para custear o ônibus ou o metrô. Esses pequenos detalhes que tornam mais prático o transporte público podem soar um pouco distantes da realidade brasileira, mas já funcionam desde 2004 na Coreia do Sul. E tudo isso está inserido em um projeto chamado “T-Money”, que é uma série de cartões recarregáveis usados no transporte ou em lojas de conveniência. E o mais legal é que um sistema padronizado que funciona em todas as grandes metrópoles do país (que são só seis, incluindo Daejeon, onde eu estou morando) e em mais umas 20 cidades menores. 

Táxi com placa avisando que aceita o T-Money (atualmente quase toda a frota conta com a máquina) 

Isso significa que, se fosse no Brasil, eu poderia usar o meu “Bilhete Único” (BU) carioca para pegar o transporte em São Paulo, e, inclusive, pagar o meu almoço em uma loja de conveniência (que, embora não sejam comuns em território brasileiro, aqui na Coreia o que você mais vê na rua são essas redes abertas 24h. Ex: GS 25, CU, 7 Eleven, Ministop, entre outros). E eu adoro essa praticidade, que tem tudo a ver com o nome do sistema. O “T” de “T-Money”, é um genérico para vários conceitos como trânsito (traffic), tecnologia (technology), viagem (travel) e toque (touch). Na primeira vez que eu vim à Coreia, no final de 2012, eu tinha ficado abismada principalmente com o fato de que eu podia usar esse cartão para pagar o táxi. Depois de dois meses morando aqui, eu já me acostumei a ele e sou testemunha de como tem dado certo.

Máquina do T-Money para passar o cartão 

Basicamente, há várias opções de cartões recarregáveis, que custam entre 2,500 e 3,000 wons (em torno de uns R$5,50, em média) e dá para comprar em vários lugares, contando ainda com máquinas para recarregar. Um pouco parecido com o BU carioca nesse aspecto. A novidade coreana é que você pode vincular o seu cartão de débito do banco ao T-Money, o que pode ser um pouco perigoso, pois, se a pessoa for desastrada como eu, que vivo perdendo as coisas, já era. Como não precisa de senha, é muito fácil alguém acabar com todo o dinheiro do cartão quando achar na rua (depois faço um post explicando como funcionam os sistemas bancários). A diferença é que o povo aqui tem outra cultura. Eles não são tão malandros quanto os brasileiros e provavelmente procurariam um meio de devolvê-lo caso o encontrassem na rua. Mas aí é outra história.

Para usar o sistema, basta encostar o cartão na máquina que fica disposta próxima à porta de entrada do ônibus ao lado do motorista. Ou, se for metrô, é só passar na catraca. Ela vai emitir um barulhinho e dizer “obrigada” em coreano. Se der algum erro, existem outras mensagens gravadas, como “por favor, passe novamente o cartão” ou “saldo insuficiente”. Tudo em coreano. Para a integração funcionar, ao sair do veículo, é preciso encostar novamente o cartão em outra máquina perto da porta de saída, ou, no caso do metrô, em outra catraca. A partir desse momento, você tem 40 minutos para fazer a integração. Essa é uma ideia que funcionaria muito bem no Rio, onde o intervalo de 2h tinha sido muito criticado no início, já que às vezes a pessoa pode passar até mais de 3h dentro de um ônibus com aquele trânsito caótico. 
  
 Esse sinal verde aparece quando seu cartão é aceito (tanto na entrada quanto na saída)  

Descontos: Tarifas de integração e por idade

 Em Seul, que é uma das cidades no mundo com maior número de habitantes por m2, o sistema é bem complexo e o pessoal tem que ser muito bom em matemática. Mas também é possível instalar um aplicativo no celular para fazer essas contas por você. Quem tem um cartão do T-Money pode pegar até cinco transportes diferentes da mesma categoria (são quatro diferentes), pagando apenas o valor de uma tarifa, que varia entre 850 wons (R$1,70) e 1850 wons (uns R$3,60). Se o passageiro usar diferentes categorias, vale o maior preço (metrô é o mais caro, por exemplo). E a distância também é levada em conta. Essas tarifas são válidas se você percorrer até 10 km de distância. Acima disso, é cobrado mais 100 wons (R$0,20 por cada 5 km extras).


Eu fico doidinha em Seul com 19 linhas de metrô e muitos ônibus. Ainda bem que, em Daejeon, tudo é bem mais simples. Aqui, a passagem em dinheiro custa 1200 wons (cerca de R$2,40). Mas, com o T-Money, esse valor passa para 1100 wons (R$2,20). E é possível fazer três integrações utilizando o cartão, tanto entre ônibus quanto entre metrô e ônibus. A diferença do metrô é que, acima de 10 km, vale a mesma regra de Seul, com a cobrança de 100 wons (R$0,20) para cada 5km extras percorridos. Mas, nas estações, eles colocam placas (como as da foto abaixo) informando quanto você vai pagar dependendo do seu destino (e dá para checar no aplicativo do celular também).


   

Há ainda descontos por faixa etária. Quando se vai comprar o cartão do T-Money, há algumas opções com valores reduzidos para crianças e adolescentes. Até os seis anos de idade e acima dos 65 anos, a tarifa sai de graça. Mas em Daejeon, por exemplo, quem tem entre 7 e 12 anos paga apenas 350 wons (uns R$0,70) e, para adolescentes de 13 a 18 anos, o valor passa para 750 wons (R$ 1,50).  Para fazer esse cartão, é preciso comprovar a idade por meio de um “Youth Card” ou uma carteira de estudante. No entanto, mesmo sem o cartão do T-Money, há tarifas diferenciadas para crianças e adolescentes que paguem em dinheiro (a tabela abaixo mostra isso).



Eu adoro Daejeon, porque é uma metrópole com cara de interior. Sua população é de “apenas” 1,5 milhão de habitantes, com uma área de 540 km2. Já Seul conta com mais de 10 milhões de pessoas circulando por um território com somente 605 km2 de extensão.  Só para comparar, o Rio de Janeiro, minha cidade natal, tem cerca de 6 milhões de habitantes em quase 1,2 mil km2 (o dobro do espaço urbano de Seul), enquanto na maior metrópole brasileira, São Paulo, mais de 11 milhões de pessoas moram em uma área de mais de 1,5 mil km2. A questão é que a Coreia tem muita gente para pouco espaço (embora eu tenha percebido que aqui é maior do que eu imaginava). Por isso, eles têm que se virar para fazer um transporte eficiente. O mais impressionante é que as coisas funcionam muito bem. Mas eu tenho esperanças de que um dia o carioca também possa ter orgulho de seu sistema de transporte. Tomara!

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 Esse foi o segundo post da série "Isso que é transporte público!" sobre os sistemas de mobilidade urbana na Coreia do Sul. O primeiro pode ser lido aqui e foi publicado há umas duas semanas. O próximo será sobre os sistemas de transporte rápidos, como corredores de ônibus, metrô e trem-balas. E o legal é que esse mês teve uma novidade interessante sobre esse assunto.

domingo, 3 de novembro de 2013

Isso que é transporte público! – Parte 1 (Ônibus municipais)

Como nos últimos posts eu só mencionei minha locomoção por bicicleta, achei que estava na hora de falar do transporte público da Coreia (principalmente do de Daejeon). Esse é um assunto que renderia teses e teses de mestrado e doutorado e a questão é que é muito difícil você se perder quando se pega um ônibus, por exemplo (ainda mais se você consegue ler algo de coreano). Já o metrô de Daejeon é simples até demais, porque conta apenas com uma linha, diferentemente do de Seul, que tem 19 (sendo nove municipais e o restante metropolitano).

Um guia das rotas de ônibus de Daejeon, que peguei na International Community   

 Quando o tema é transporte público, a Coreia realmente é um modelo: wi-fi dentro de todos os modais, sistema de anúncio da próxima parada nos ônibus, aplicativo no celular que te diz a posição exata da linha que você deseja pegar (tem o mesmo nos pontos), integração ônibus-metrô com possibilidade de pegar entre três e cinco tipos de transportes diferentes pagando uma só tarifa (que em média custa o equivalente a um dólar). A lista de benefícios é grande e olha que não cheguei nem na metade.

Para conseguir visualizar melhor essa maravilha, pense em quando você chega num ponto de ônibus em Daejeon e se depara com algo assim: 


 
No fundo de todas as marquises dessas paradas, você encontra diversos mapas da cidade. Cada mapa mostra uma região e todas as opções que existem para poder chegar onde se deseja. Isso é muito útil até para os moradores locais. Quando eles estão indo a algum lugar desconhecido, podem ficar mais tranquilos para achar o melhor caminho no próprio ponto. Simples assim, como se vê abaixo:



A telinha no canto direito da primeira foto é a que informa as linhas que param naquele ponto, o destino delas e a localização do próximo ônibus. Quando um deles está se aproximando, uma voz informa que dentro de instantes a linha tal chegará àquele local, o que também pode ser acompanhado pelo celular. Isso me tem sido muito útil. Antes de sair de casa, eu sempre checo quanto tempo meu ônibus vai demorar. Se eles dizem quatro minutos, saio correndo. Se for dez minutos ou mais, dá até para fazer um lanchinho extra.





Dentro dos ônibus, o passageiro tem wi-fi gratuito e até um relógio mostrando a hora naquele momento. Há várias placas informativas contendo os horários de circulação daquele veículo, com os nomes de todas as “estações” daquela linha. Além de estar escrito, ainda há uma gravação anunciando a cada parada os nomes dos dois próximos pontos.





O problema disso é que tanto as placas quanto a voz geralmente são apenas em coreano, o que restringe um pouco o alcance dos turistas. A única informação que também é dita em inglês é quando a parada tem integração com o metrô ou é uma universidade ou ponto turístico famoso. Se você quiser fugir desses lugares badalados, que se vire para entender o idioma.

Outra coisa positiva é que todos os ônibus têm ar-condicionado ou aquecedor. Mas, não sei se os motoristas são treinados para usar esses recursos apenas em casos extremos, porque geralmente fica um calor infernal dentro dos ônibus, mas ninguém abre a janela. Realmente não entendo porque os coreanos não fazem isso. No início, eu até achava que não tinha como abri-las. Até que um dia eu sentei perto da janela e me dei conta de que minha intuição estava errada. Só sei que quase sempre eu frito lá dentro, mesmo quando está uns 5ºC lá fora... Vai entender.



Bom, como esse assunto de transporte público é muito extenso, vou deixar para falar de tarifas, trem-balas, metrôs e ônibus intermunicipais em outros posts.