Pagar o táxi (ou até o ingresso para um parque de diversões)
com “Bilhete Único”. Fazer cinco integrações pelo valor de apenas uma tarifa.
Usar o cartão de crédito para custear o ônibus ou o metrô. Esses pequenos
detalhes que tornam mais prático o transporte público podem soar um pouco
distantes da realidade brasileira, mas já funcionam desde 2004 na Coreia do Sul.
E tudo isso está inserido em um projeto chamado “T-Money”, que é uma série de
cartões recarregáveis usados no transporte ou em lojas de conveniência. E o mais legal é que um sistema padronizado que funciona
em todas as grandes metrópoles do país (que são só seis, incluindo Daejeon,
onde eu estou morando) e em mais umas 20 cidades menores.
Táxi com placa avisando que aceita o T-Money (atualmente quase toda a frota conta com a máquina)
Isso significa que, se fosse no Brasil, eu poderia usar o
meu “Bilhete Único” (BU) carioca para pegar o transporte em São Paulo, e, inclusive,
pagar o meu almoço em uma loja de conveniência (que, embora não sejam comuns em
território brasileiro, aqui na Coreia o que você mais vê na rua são essas redes
abertas 24h. Ex: GS 25, CU, 7 Eleven, Ministop, entre outros). E eu adoro essa
praticidade, que tem tudo a ver com o nome do sistema. O “T” de “T-Money”, é um
genérico para vários conceitos como trânsito (traffic), tecnologia (technology),
viagem (travel) e toque (touch). Na primeira vez que eu vim à Coreia, no final
de 2012, eu tinha ficado abismada principalmente com o fato de que eu podia usar esse cartão para pagar o táxi.
Depois de dois meses morando aqui, eu já me acostumei a ele e sou testemunha de
como tem dado certo.
Máquina do T-Money para passar o cartão
Basicamente, há várias opções de cartões recarregáveis, que
custam entre 2,500 e 3,000 wons (em torno de uns R$5,50, em média) e dá para
comprar em vários lugares, contando ainda com máquinas para recarregar. Um pouco parecido com o BU carioca nesse aspecto. A novidade coreana é que você pode vincular o seu cartão de
débito do banco ao T-Money, o que pode ser um pouco perigoso, pois, se a pessoa
for desastrada como eu, que vivo perdendo as coisas, já era. Como não precisa
de senha, é muito fácil alguém acabar com todo o dinheiro do cartão quando
achar na rua (depois faço um post explicando como funcionam os sistemas
bancários). A diferença é que o povo aqui tem outra cultura. Eles não são tão
malandros quanto os brasileiros e provavelmente procurariam um meio de
devolvê-lo caso o encontrassem na rua. Mas aí é outra história.
Para usar o sistema, basta encostar o cartão na máquina que
fica disposta próxima à porta de entrada do ônibus ao lado do motorista. Ou, se
for metrô, é só passar na catraca. Ela vai emitir um barulhinho e dizer “obrigada”
em coreano. Se der algum erro, existem outras mensagens gravadas, como “por
favor, passe novamente o cartão” ou “saldo insuficiente”. Tudo em coreano. Para
a integração funcionar, ao sair do veículo, é preciso encostar novamente o
cartão em outra máquina perto da porta de saída, ou, no caso do metrô, em outra
catraca. A partir desse momento, você tem 40 minutos para fazer a integração.
Essa é uma ideia que funcionaria muito bem no Rio, onde o intervalo de 2h tinha
sido muito criticado no início, já que às vezes a pessoa pode passar até mais
de 3h dentro de um ônibus com aquele trânsito caótico.
Descontos: Tarifas de integração e por idade
Eu fico doidinha em Seul com 19 linhas de metrô e muitos ônibus. Ainda bem que, em Daejeon, tudo é
bem mais simples. Aqui, a passagem em dinheiro custa 1200 wons (cerca de
R$2,40). Mas, com o T-Money, esse valor passa para 1100 wons (R$2,20). E é
possível fazer três integrações utilizando o cartão, tanto entre ônibus quanto
entre metrô e ônibus. A diferença do metrô é que, acima de 10 km, vale a mesma
regra de Seul, com a cobrança de 100 wons (R$0,20) para cada 5km extras
percorridos. Mas, nas estações, eles colocam placas (como as da foto abaixo) informando quanto você vai
pagar dependendo do seu destino (e dá para checar no aplicativo do celular também).
Há ainda descontos por faixa etária. Quando se vai comprar o
cartão do T-Money, há algumas opções com valores reduzidos para crianças e
adolescentes. Até os seis anos de idade e acima dos 65 anos, a tarifa sai de
graça. Mas em Daejeon, por exemplo, quem tem entre 7 e 12 anos paga apenas 350
wons (uns R$0,70) e, para adolescentes de 13 a 18 anos, o valor passa para 750
wons (R$ 1,50). Para fazer esse cartão,
é preciso comprovar a idade por meio de um “Youth Card” ou uma carteira de
estudante. No entanto, mesmo sem o cartão do T-Money, há tarifas diferenciadas
para crianças e adolescentes que paguem em dinheiro (a tabela abaixo mostra
isso).
Eu adoro Daejeon, porque é uma metrópole com cara de
interior. Sua população é de “apenas” 1,5 milhão de habitantes, com uma área de
540 km2. Já Seul conta com mais de 10 milhões de pessoas circulando
por um território com somente 605 km2 de extensão. Só para comparar, o Rio de Janeiro, minha
cidade natal, tem cerca de 6 milhões de habitantes em quase 1,2 mil km2 (o
dobro do espaço urbano de Seul), enquanto na maior metrópole brasileira, São
Paulo, mais de 11 milhões de pessoas moram em uma área de mais de 1,5 mil km2.
A questão é que a Coreia tem muita gente para pouco espaço (embora eu tenha
percebido que aqui é maior do que eu imaginava). Por isso, eles têm que se
virar para fazer um transporte eficiente. O mais impressionante é que as coisas
funcionam muito bem. Mas eu tenho esperanças de que um dia o carioca também possa
ter orgulho de seu sistema de transporte. Tomara!
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