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sexta-feira, 25 de julho de 2014

“Tá bom”: o que o coreano diz quando está feliz

Nos meus primeiros dias na Coreia, como eu morava com meus sogros, tinha que me comunicar por meio do pouco vocabulário em coreano que eu conhecia ou do “conglês” (palavras em inglês adaptadas para o idioma deles). Mas me surpreendeu que eles viviam repetindo para mim a expressão “tá bom” (ou 따봉), com o dedão levantado. Eu não entendia nada, até que meu marido me explicou que, por causa de uma propaganda da década de 1990, se eu falasse isso para qualquer um na rua, eles entenderiam que eu quis dizer que algo é legal ou agradável. Depois, ainda ouvi na TV coreana uma senhora cheia de pompa dando uma opinião sobre uma obra de arte utilizando os mesmos termos e gestos. Além disso, por causa da Copa do Mundo no Brasil, surgiram vários programas televisivos fazendo referência ao bordão.




Essa repetição maciça me deixou com a pulga atrás da orelha. Foi quando, recentemente, fuxiquei na Internet para ver se encontrava algo sobre as origens do uso dessa expressão na Coreia. E fiquei admirada com o que descobri. Primeiramente, é bom saber que os coreanos adoram adotar vocábulos estrangeiros para parecerem mais intelectuais. Existem várias cafeterias e estabelecimentos diversos com nomes em italiano, francês, espanhol e até português, que provavelmente, em alguns casos, o dono nem sabe o significado, porque já vi algumas coisas escritas com erros. Percebe-se essa influência até nas marcas dos carros do país, com, por exemplo, modelos como o Veracruz e o Avante.

Bom, vou deixar para falar disso outro dia, mas voltando ao “tá bom”, essa é mais uma invenção da Lotte, gigante do setor de varejo coreano. Foi o nome dado a uma linha de sucos lançada por eles com frutas brasileiras, da submarca Delmont. E, quem atua na propaganda (vídeo 1) que popularizou o bordão é o Lee Soo-man (이수만), fundador da SM Entertainment, uma das três grandes gravadoras do país. Quem curte K-Pop sabe que esse foi o cara que lançou as bandas Girls’ Generation, Super Junior, SHINee e uma lista imensa dos artistas mais famosos do país. Mesmo quem não entende coreano consegue captar a mensagem desse vídeo. A menina canta que o suco é o “tá bom”, que todo mundo gosta. O rapaz pergunta se ela está falando do Delmont e depois apresenta os sabores. A outra propaganda (vídeo 2) explica que as frutas vêm do Brasil, mais especificamente de lavouras em Araraquara (SP).  



Um programa da emissora coreana tvN (vídeo 3) aproveitou o gancho da Copa e, em junho, lançou um episódio em que o apresentador esclarece aos coreanos as origens e significados do “tá bom”. Da metade para o fim, eu não entendi quase nada do que ele diz, mas achei interessante, principalmente quando eles colocam para ilustrar a matéria um clipe de uma música do Harmonia do Samba que eu nunca tinha ouvido na vida. O mais engraçado é que os brasileiros falam “tá bom” com muito menos entusiasmo do que os coreanos. Acredito que, dos vários usos dessa expressão no Brasil, a mais comum hoje em dia é a de concordar com algo, muitas vezes até depois de se estressar numa discussão e só me vem à cabeça a cena em que a personagem Lady Kate, do humorístico Zorra Total (vídeo 4), repete isso freneticamente.



Um desenho animado famoso na Coreia, chamado Larva, produziu um clipe com o hit “Tá bom”, música criada em homenagem à Copa do Mundo 2014. Em uma parte, o personagem Brown (uma barata, acho) pergunta: “o que o brasileiro diz quando tá feliz?” e um tatu-bola fofo repete logo: “tá bom”. Eu não sei de onde eles tiraram isso, mas definitivamente dedão levantado, para a gente, significa muito mais um “valeu” ou “ok”. Bom, por isso, não se pode dizer que esse bordão coreano é exatamente igual ao do Brasil. Seria uma adaptação, com um conceito só deles. De qualquer forma, o vídeo é bem engraçadinho e o refrão, grudento. Eles fizeram duas versões, uma internacional (em português) e outra em coreano, que podem ser vistas abaixo.



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Só para acrescentar, esqueci de dizer que, na minha cerimônia de casamento na Coreia, meu marido gritou três vezes "tá bom", depois de explicarem que essa era uma expressão brasileira. Espero que tenham gostado. E tá bom! Já chega por hoje.


quinta-feira, 17 de julho de 2014

O que os coreanos pensam sobre o Brasil e os brasileiros?

“Futebol, samba, Carnaval”; “Fica na África ou perto da Índia?”; “Você é do Rio, capital do Brasil, né?". É engraçado que, desde a primeira vez em que cheguei à Coreia, tenho ouvido muitos comentários dos coreanos sobre minha terra natal. No geral, quando digo que sou brasileira, a maioria abre um sorriso e repete as três palavrinhas mágicas de sempre: futebol, samba e Carnaval. Conversando com outros brasileiros que estão morando no país, pude comprovar que a reação coreana é quase sempre a mesma. Simpatia e alegria. A imagem do Brasil é, via de regra, bastante positiva entre eles. Quase ninguém sabe dos problemas estruturais do país e, mesmo quando fazem ideia, preferem pensar de forma positiva. Mas também presenciei alguns casos curiosos envolvendo a minha origem que gostaria de compartilhar. Minha intenção não é criar ou reforçar estereótipos, senão falar um pouco sobre situações que envolvam a percepção de alguns coreanos que nunca estiveram no Brasil sobre nossa localização, cultura e costumes. 

Foto: Ariane Rodrigues

  • O país do futebol: Em épocas que antecediam a Copa do Mundo de 2014, quando coreanos ouviam que eu era brasileira, já soltavam algo sobre o grande evento e como o Brasil era bom em futebol. Alguns arriscavam nomes de jogadores famosos, como Pelé, Ronaldinho (o Fenômeno), Rivaldo, entre outros, principalmente os que participaram do pentacampeonato de 2002, já que os coreanos tiveram uma proximidade maior com o futebol esse ano, quando a Coreia foi sede do mundial juntamente com o Japão. Desde então, o esporte tem se tornado cada vez mais popular no país, após a seleção da casa ter conquistado sua melhor classificação no evento, ficando com o quarto lugar (mesma posição do Brasil nesta última Copa, aliás). De qualquer forma, o futebol brasileiro tem uma boa fama em quase todos os lugares do mundo e não seria muito diferente na Coreia. Já vi muita gente nas ruas vestindo a camisa da seleção do Brasil ou algum acessório com a nossa bandeira estampada, itens facilmente encontráveis em lojas coreanas (fotos).

Fotos: Ariane Rodrigues

  • Carnaval (ou “Festival do Samba”): A imagem do Carnaval carioca e dos desfiles de escola de samba ainda é tida como referência para os coreanos. A palavra que eles usam para descrever essa festa é inclusive 삼바 축제 [samba tchukje] ou “Festival do Samba”. Eu, como carioca, não acho isso tão estranho, mas, para brasileiros de outras regiões, é triste pensar que outras manifestações culturais, como o axé baiano (que hoje tem uma presença bem maior na época do Carnaval) ou o frevo pernambucano e os bonecos de Olinda sejam ignorados mundo afora. Para piorar, em parceria com a Fifa, o Mac Donald’s lançou um menu para a Copa do Mundo chamado “Samba Beef Burger” (foto), o que ajuda ainda mais a sustentar a ligação (inexistente) entre samba e futebol. Nesse mesmo período, o Brasil estava na moda e, então, era possível encontrar, em várias cafeterias e estabelecimentos, referências à cultura do país: imagens de pessoas sambando com roupas de Carnaval eram muito comuns. 
Foto: Ariane Rodrigues

  • Beleza brasileira: A aparência dos brasileiros, principalmente das mulheres, é vista com bons olhos pelo público coreano. Alguns acham que o país só tem negros ou indígenas e se espantam quando descobrem que existem brancos e pardos também. Outros sabem que a Gisele Bündchen (foto) é nossa conterrânea e acreditam que ela seja um modelo de beleza no Brasil. Como eu sou parda, é muito difícil para os coreanos acertarem de onde eu sou. A maioria acha que sou indiana ou de algum país do Sudeste Asiático. Já chutaram Malásia, Filipinas, Indonésia, Turquia, Irã, algum lugar na Europa, Estados Unidos ou Venezuela. No entanto, só uma menina de 12 anos perguntou se eu era brasileira. Ela tinha morado nos Estados Unidos e disse que sabia reconhecer as diferenças. Sortuda, nem eu consigo uma proeza dessas. Uma vez, meu marido contou no trabalho de onde eu era e mostrou uma foto minha para o chefe dele, que comentou: “Puxa, eu achava que todas as brasileiras fossem bonitas. Deve ser só na TV”. Isso acabou com minha auto-estima, mas foi interessante para perceber o que alguns coreanos pensam sobre nós. 
Foto: Luigi & Daniele + Iago / Divulgação

  • Continente brasileiro: Geografia não é muito o forte dos coreanos. Muita gente (especialmente os mais velhos) não sabe exatamente onde fica o Brasil. Há quem me pergunte se é na África, perto das Filipinas, na Europa ou do lado dos Estados Unidos. Enfim, já ouvi de tudo na Coreia. Inclusive, outro dia, estava eu numa loja de bolsas e achei uma mala com um pedaço de mapa, que incluía a África e parte da Ásia. Quando fui olhar de perto, levei um susto. O Brasil estava representado exatamente no lugar onde deveria estar a Argélia (no norte africano). Verifiquei a origem do produto e estava escrito: “Made in Korea”. Achei que fosse chinês, que geralmente tem fama de produções em massa sem muita atenção à qualidade. Que pena que meu celular estava sem bateria na hora e não consegui registrar a cena. No entanto, mesmo entre os que sabem que o Brasil fica na América do Sul, há aqueles que se assustam quando descobrem a distância do país em relação à Coreia. No mínimo, leva-se 24h de avião até lá e não existe voo direto, o que deixa muitos de boca aberta.
Foto: Ariane Rodrigues

  • Rio de Janeiro: Capital do Brasil: A dificuldade de saber qual é a capital do Brasil é muito comum ao redor do mundo, da mesma forma que muitos brasileiros acham que Sidney é a capital da Austrália ou que Istambul é a capital da Turquia. Para os coreanos, deve ser ainda mais difícil de assimilar isso, porque a Coreia é um país que gira quase que totalmente em torno de Seul. É a cidade mais populosa, um centro turístico, político e econômico, com uma taxa de poluição acima do normal. Ou seja, tudo o que uma capital deve ter (ou não). Só sei que, 80% das vezes em que falei que sou do Rio (foto), ouvi como resposta: “Rio de Janeiro, capital do Brasil, né?”, um erro muito comum entre estrangeiros. Ainda mais que a cidade poderia ser considerada a capital turística do país, assim como São Paulo seria a econômica e Brasília, a política. Depois que a Disney lançou o filme “Rio”, a cidade ganhou maior destaque e passou a ser mais conhecida ainda. Nunca encontrei ninguém na Coreia que soubesse exatamente qual era a capital do Brasil. Quando não diziam Rio, respondiam São Paulo. Outros lugares que parecem famosos são a Amazônia, as Cataratas do Iguaçu e Curitiba.
Foto: Jerry Choi

  • Brasileiro, um novo idioma: É muito comum desconhecer a língua falada em determinado lugar.  E, com o Brasil, não seria diferente. A maior parte dos coreanos que eu conheci achava que existia um idioma “brasileiro”. Eles não estariam exatamente errados, se considerarmos que nossa língua tem diferenças em relação à de Portugal, mas não é distinta o suficiente para dizermos que é algo novo. É como inglês britânico e americano. A base é a mesma. Outro grupo que ouvi acreditava que nosso idioma fosse o espanhol, uma ideia muito difundida principalmente nos Estados Unidos. Encontrei uma coreana que morou nos EUA por mais de 20 anos e que, quando disse que era brasileira, começou a conversar comigo em espanhol. Eu fui respondendo no mesmo idioma, porque fiquei sem graça de explicar que minha língua nativa era o português. Outra parcela mínima de coreanos me questionou se no Brasil falávamos inglês, por acreditar que fôssemos vizinhos dos norte-americanos. Mas esses eram minoria.

  • Cultura em geral: Algumas outras manifestações culturais brasileiras também são conhecidas na Coreia, como a Bossa Nova e a capoeira. É possível escutar, em alguma das milhares cafeterias espalhadas pelo país, diversos hits da MPB, que provavelmente eles nem sabem que são do Brasil. A canção “Garota de Ipanema” parece ser famosa entre o povo coreano, assim como suas versões. Um cantor brasileiro que faz sucesso na Coreia é o Tiago Iorc, embora quase todas as suas composições sejam em inglês. Em 2010, ele foi eleito o melhor artista estrangeiro por sua apresentação no Grand Mint Festival, em Seul (vídeo). Já “Ai, se eu te pego”, do Michel Teló, não teve tanta repercussão na Coreia quanto na Europa, mas também há os que conhecem. Outra música que toca bastante em rádios coreanas é “Chorando se foi”, a lambada da banda franco-brasileira Kaoma. E não é a original boliviana, mas a versão em português que mais pode ser ouvida.


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Depois de todas as considerações, acredito que os coreanos realmente gostem de brasileiros e são muito mais simpáticos quando você diz de onde é. Eles são meio preconceituosos com pessoas de determinados países e podem acontecer atos xenofóbicos. Eu nunca sofri nada muito sério, mas certas reações de coreanos a estrangeiros mais afastam do que acolhem. Como este post já está muito extenso, vou falar mais sobre determinados pontos outro dia. Hoje, inclusive achei umas raridades na Internet, que são as propagandas da Delmont, que deram origem ao uso da expressão “tá bom” pelos coreanos. Achei tão legal que vai ser meu próximo assunto aqui no blog. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

(Quase) nada de burocracia - Casamento civil na Coreia

No início de 2013, eu e meu atual marido decidimos nos casar no civil no Brasil. Após pesquisar um pouco sobre documentação e valores, percebi que demoraria muito e gastaríamos uma boa grana para dar prosseguimento ao processo, mas fomos em frente. Tiramos uma certidão de nascimento para ele no Consulado da Coreia do Sul em SP, traduzimos para o português e registramos o passaporte dele. Tudo certinho, mesmo custando mais de 2 mil reais. Quando fomos ao cartório de Pilares (o único em que eu podia casar pelo meu endereço) para dar entrada, juntamente com as duas testemunhas, a funcionária do local alertou que havia algo errado: precisaria de um intérprete juramentado tanto para protocolizar quanto para o dia da assinatura do documento, o que daria mais 1,2 mil reais (fora a taxa consular de uns 500 reais) e ainda levaria, em média, três meses para finalizar tudo.

                O excesso de burocracia acabou criando muito estresse, mas, como no Brasil cada cartório segue regras independentes, decidimos dar andamento pelo cartório de Copacabana, onde meu marido morava na época. Lá, eles não pediam intérprete e a exigência de documentos era bem menor, o que seria mais barato e ficaria tudo pronto em cerca de um mês. Acabou que, nesse meio tempo, minha mãe morreu e o Jerry (meu marido) desenvolveu um problema nos rins e no fígado e, por não confiar no sistema de saúde brasileiro depois da sequência de erros médicos que levou à morte da minha mãe, decidiu voltar às pressas para a Coreia. Por isso, depois de uns três meses tentando, pagamos e não conseguimos casar no Brasil.

                Contei tudo isso para mostrar como certos entraves complicam qualquer coisa no nosso país e, na nossa situação, foi ainda pior. No entanto, na Coreia, quase tudo é de graça e, em no máximo uma semana, já sai a certidão de casamento. Além disso, os cartórios exigem poucos documentos, o que diminui a duração total do decurso. Se eu soubesse que o caminho contrário era mais fácil, não teria tentado casar primeiro no Brasil. O meu post de hoje é sobre isso. Quando fui estudar na Coreia, em setembro do ano passado, já tinha planos de casar no civil lá, ou, como eles chamam, 혼인신고 (honin shingo) e depois registrar no Brasil. Por isso, levei meus documentos traduzidos para o inglês e pedi para dois amigos assinarem uma declaração de estado civil antes de eu partir, porque li que isso era necessário para o casamento coreano. Então, foi tudo muito simples.

                Basicamente, estrangeiros que casem com coreanos precisam somente comprovar que são solteiros, por meio de algo reconhecido pela embaixada do seu país e um atestado de filiação do interessado, traduzido para o coreano ou inglês. No caso de cidadão brasileiro, pode ser a identidade ou a certidão de nascimento. O site da Embaixada do Brasil mostra as exigências para a emissão da papelada necessária. A “declaração consular de estado civil”, por exemplo, tem um custo de 22,5 mil wons (uns 50 reais) e leva cerca de três dias úteis para ficar pronta. Mas a pessoa tem que ter sorte, porque algumas atendentes parecem que estão lá para dificultar a sua vida. Uma das funcionárias do órgão foi tão “simpática”, que ficou insistindo que podia demorar mais e blá, blá, blá.


                E, para solicitar essa declaração, precisa de original e cópia do passaporte brasileiro (páginas 1, 2 e 3); um formulário  preenchido e assinado pelo declarante e duas testemunhas de qualquer nacionalidade, e esse documento pode ser assinado pessoalmente ou, caso elas não estejam presentes no momento, tem que reconhecer a assinatura em cartório; além de um original e cópia da certidão de nascimento, segunda via, emitida nos últimos seis meses. No meu caso, isso foi tranquilo, porque já tinha tirado um pouco antes de sair do Brasil, mas eu fico imaginando se o brasileiro já estivesse morando na Coreia há um ano ou mais e decidisse se casar com um coreano. Como ele faria para tirar uma segunda via da certidão de nascimento? O governo brasileiro sempre causando problemas.

                Com isso em mãos, basta ir a um tipo de sub-prefeitura coreana, que é um órgão do governo dividido por áreas administrativas da cidade (nome do bairro +  [chong]). Ao se dirigir ao Centro de Atendimento ao Cidadão (foto) do prédio, os interessados preenchem o formulário (foto) com informações pessoais como nome, local e data de nascimento. Então, os noivos e duas testemunhas assinam, mas só uma das partes precisa estar presente na data do registro. Para o/a coreano(a), só é necessário o certificado de relação familiar (가족 관계 증명서) e alguma identidade com foto. Em relação ao estrangeiro, já explicitei anteriormente as exigências. Depois que entregar tudo, os dois já podem se considerar casados, mas precisam apenas esperar que a certidão de casamento seja emitida (o que leva em torno de uma semana). E não há nenhuma taxa consular ou algo do gênero.


Cartório onde casei

Centro de Atendimento ao Cidadão da sub-prefeitura de Seogu, Daejeon

Os brasileiros precisam saber que o casamento só terá validade no seu país de origem se for registrado na embaixada, que fica no bairro turístico de Gwanghwamun, em Seul (fotos da vista do lado de fora). No dia de dar entrada, basta que o brasileiro compareça com a documentação exigida, depois de traduzir duas certidões para inglês, espanhol, francês ou português (mas aviso que é mais fácil encontrar tradutor para inglês). Também é necessário pagar 60,000 wons (uns 120 reais). Quando a certidão de casamento estiver pronta, os dois precisam estar presentes para assinar e escolher o regime de bens, já que isso não existe na Coreia. O prazo mínimo é de três dias úteis, mas uma das “adoráveis” funcionárias da embaixada me alertou que eles só cumprem esse tempo se não tiver nenhum problema técnico. Ou seja, depende do humor dela e do computador não quebrar.


Palácio de Gyeongbukgung visto da janela da embaixada do Brasil em Seul
Foto: Ariane Rodrigues
E, por último, casar na embaixada não é suficiente. Depois disso, o noivo brasileiro (ou um procurador) tem um prazo de seis meses para transcrever essa certidão no primeiro cartório da sua região no Brasil. Isso mesmo. É preciso voltar para sua cidade natal e fazer a solicitação. No Rio de Janeiro, tem que ser na Ilha do Governador. As informações detalhadas estão no site do órgão, mas já adianto que o processo custa uns 325 reais e o documento fica pronto em cerca de dez dias úteis. Depois disso, a pessoa já pode se considerar casada tanto no Brasil quanto no exterior. E isso é necessário para ter o visto permanente (o famoso “green card”) na Coreia, chamado de F6. Apenas casar pela lei local não te dá direito a morar lá. E, como os coreanos não permitem dupla nacionalidade, o brasileiro pode apenas trocá-la, o que significa que tecnicamente deixaria de ser brasileiro, mas isso é opcional.

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Finalmente, depois de mais de um ano tentando, nesta sexta-feira (11/07), já poderei me considerar casada no Brasil. E, quando voltar para a Coreia, terei direito à residência lá. Mesmo com esses detalhes burocráticos para emissão de visto para estrangeiro, eu ainda recomendo que os brasileiros casem antes pela lei coreana e depois façam o registro no Brasil. Acaba saindo mais barato e mais rápido. Mas, para quem não mora na Coreia, realmente fica mais fácil o caminho inverso, já que as passagens são extremamente caras (mais de 4 mil reais, ida e volta) e essa ponte aérea pode criar um custo ainda maior. Para quem está nesse processo, boa sorte.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Casamento na Coreia – Sessão de fotos

Após o post sobre o moderno modelo de cerimônia de casamento na Coreia do Sul, achei que tinha uma parte desse processo que merecia destaque: a sessão de fotos que os noivos fazem antes da grande data, também chamada de 웨딩촬영 (wedding tchalyong). Principalmente porque, quando postei no Facebook as minhas, recebi muitos elogios de amigos e certas pessoas vieram me perguntar mais detalhes e agradecer, porque elas teriam se inspirado no meu ensaio para fazer algo parecido. Como sei que meu book estava até fraquinho comparado com outras sessões de casais coreanos, decidi mostrar alguns exemplos dos vários tipos existentes e explicar como acontece por trás das câmeras.

Modelo mais tradicional de foto
Foto: The Bride Studio
Vestidos esvoaçantes aparecem bastante nesses books
Foto: ephotoessay

Primeiramente, como já havia explicado no post anterior, é bom entender que, na maioria das vezes, essas fotos já vêm inclusas no pacote de casamento que se contrata com o wedding hall. E elas fazem parte de todo o sistema, porque, na data da cerimônia, são elas que ficarão na porta do salão e que indicarão para os convidados que eles não estão no casamento errado, já que podem estar acontecendo vários eventos ao mesmo tempo no mesmo prédio. Então, além de serem bonitas e glamurosas, também acabam sendo úteis para o padrão de casamento coreano. Na nossa cerimônia, tinham os três quadros com a seleção que fizemos das melhores poses.

Um dos quadros que ficavam na frente do nosso salão e eu vestindo o hanbok
Foto: Jerry Choi

Como cada casamento tem um tempo de preparação diferente (entre três meses e um ano, em média), a data para a realização do ensaio pode ser modificada. Se o casal começar a organizar tudo com certa antecedência, pode até escolher a melhor estação do ano para fazer fotos externas (tem quem prefira neve, flores ou o colorido do outono) e isso fica a critério dos noivos. Muita gente também insere as fotos do book nos convites de casamento para mandar aos convidados. No nosso caso, meu marido trabalha no exterior e só chegava à Coreia durante as férias dele, uma semana antes do casamento, e, por isso, tivemos que correr com tudo e as fotos acabaram ficando prontas apenas a quatro dias da cerimônia.

Foto externa em estilo "verão"

Casal em ambiente mais urbano
Foto: DuoWed 
Simulação de neve para provável casamento no inverno
Foto: Poem Photography
Convite de casamento usando fotos do book
Casal: Kim Jeongeun e Kang Minwoo
   
No estúdio em que fizemos as fotos, pelo curto tempo que nos restava, o ensaio foi todo interno, em um único dia, e com duração de cerca de 4h. Só levamos de casa o 한복 (hanbok), roupa tradicional coreana, que alugamos numa loja. Todo o restante foi providenciado pelo estúdio. Eles me pediram para não colocar nada no rosto e para lavar o cabelo somente com shampoo (achei que a juba ia ficar tensa, mas até que não foi tão ruim). Chegamos lá ao meio-dia, hora em que começamos a ser maquiados. No cabelo, ela não tinha mexido, o que me deixou preocupada.

A maquiagem para a sessão de fotos
Outro modelo de hanbok, roupa tradicional coreana

Logo depois, fui informada de que haveria cinco trocas de roupas e penteados e eu poderia escolher uma opção de cada tipo de vestido: rodado, colado, mini, colorido e o 한복 (hanbok) que eu havia levado. Todos eram tão lindos que ficava até difícil dizer qual era o melhor. Assim que selecionei o modelo com saia em A (como na foto abaixo), a cabeleireira apenas colocou uma presilha na minha cabeça e demos início à primeira parte da sessão de fotos. Os cenários eram em padrão europeu clássico, com poltronas incríveis e a luz que batia naquela hora ajudava a dar um ar angelical. O fotógrafo era um coreano maluquinho com cara e estilo de japonês, mas a qualidade do serviço era inegável. Eu e meu marido estávamos meio nervosos e não conseguíamos sorrir no começo, mas logo ele foi nos deixando mais à vontade.

Cenário em estilo europeu clássico
Modelo com saia em A e terno clássico
Fotos: Poem Photography

Acabada a primeira parte, era hora do vestido colado e acabei escolhendo um com uma super cauda. Também mexi no cabelo e fiz um penteado mais clássico, com coque e uma coroa. Esse andar era o que tinha os cenários mais bonitos, com flores de cerejeira e uma decoração no mesmo estilo da locação anterior. A terceira opção, o mini vestido, era para fotos que simulavam ambiente externo, no terraço do estúdio, com uma bicicleta, umas plantas e cenários igualmente fofos. O cabelo ainda estava um pouco parecido com o anterior, embora mais despojado. Com essa roupa, também posamos em uma janela gigante.
Flores de cerejeira, símbolo de alguns países orientais
 


Vestido mini em ambiente externo


Fotos: Poem Photography

Para acabar o ensaio, faltava apenas o vestido colorido, que eu optei por um amarelinho claro, já que era primavera, e ficou bem gracioso combinando com as flores do cenário (nem foi de propósito). No final, colocamos o hanbok e fomos para a locação em estilo tradicional coreano, com os patinhos ao fundo simbolizando o amor eterno do casal e aquele ambiente oriental, em que simulamos servir chá um ao outro e fizemos pose com as mãos posicionadas na altura da barriga, na forma mais antiga dos coreanos se posicionarem. Depois, como nosso casamento era na próxima semana, o fotógrafo descarregou as mais de 300 fotos tiradas para que possamos selecionar as 18 opções para impressão e as que seriam usadas na cerimônia.   
  




Fotos: Poem Photography

Em relação aos valores, como disse anteriormente, o ensaio estava incluso no pacote do casamento, mas eles discriminaram cerca de 1,5 milhão de wons (uns três mil reais), o que cobria os custos de maquiagem, cabelo, aluguel dos quatro vestidos e as fotos em si (fotógrafo e edição), além de um DVD com o registro do dia, um quadro gigante com uma foto na horizontal, outro com quatro outras menores e cinco porta-retratos. Não é barato, mas nada com um preço tão absurdo se comparado à qualidade do serviço prestado e à rapidez com que eles foram obrigados a aprontar tudo. Espero que tenham gostado e fiquem com outra foto clássica desse tipo de sessão (fundo preto):

Foto: Born Wedding Studio