Depois do post sobre a opinião dos coreanos a respeito do
Brasil, uma pergunta que ouço muito é relativa à reação dos coreanos quando
encontram com estrangeiros. O engraçado é que, quando comecei a conversar com
meu marido, ele me disse que já era adolescente na primeira vez que viu uma
pessoa que não era oriental, e, mesmo assim, ficou chocado por causa da
diferença. Mas isso foi na década de 1990. Hoje em dia, a quantidade de
estrangeiros na Coreia aumentou consideravelmente. E, com isso, é (um pouco) mais
comum encontrar pessoas de diferentes etnias nas ruas do país.
Consequentemente, tornou-se mais fácil de aceitar a presença
de gente de diversas nacionalidades. A grande parte dos coreanos é super simpática, e mesmo
que eles sejam um povo mais fechado, sempre tem alguns que gostam de puxar papo
para saber de onde você é e o que faz no país. Além disso, para aqueles que não
têm traços asiáticos, os olhares serão inevitáveis, já que a maioria dos
coreanos ainda mantém certa homogeneidade, sendo, de certa forma, parecidos. E
é bom ressaltar que eles não são todos iguais, como muita gente costuma dizer no
Brasil.
Minha sogra me disse uma vez que é mais fácil para os
coreanos me aceitarem por causa da cor da minha pele e cabelo. Se eu fosse
loira ou negra, segundo ela, talvez houvesse mais estranhamento. De qualquer forma, eu vou ser sempre vista
como estrangeira na Coreia, não importa o quão fluente eu fale coreano ou o
quanto siga os padrões deles. Assim, separei uma lista de algumas reações que
percebi se repetirem entre os coreanos quando encontram com um estrangeiro:
Estrangeiros
asiáticos: Chineses e japoneses, por exemplo, conseguem passar
despercebidos no meio da multidão e não chamam tanto a atenção. Mas exatamente a
semelhança pode criar situações constrangedoras, principalmente se a pessoa não
souber coreano ou desconhecer certos fatores culturais. Eu, por exemplo, saía
muito com colegas chineses e, embora meu nível do idioma fosse melhor que o
deles e eu que tivesse feito alguma pergunta, os atendentes de lojas e restaurantes cismavam em falar
olhando diretamente para os chineses que estavam comigo. Aí, meus amigos não
entendiam e eu que respondia, mas os coreanos continuavam me ignorando e só
olhando para os outros de olhinhos puxados. Uma questão de identificação.
Atendentes de rede de
fast food: Muita gente me dizia que não dá para se virar com inglês na
Coreia. Ótimo! Eu queria mesmo praticar coreano. Chegava à lanchonete,
pedia meu lanche usando todo o vocabulário de coreano que tinha aprendido e,
então, o atendente retrucava com alguma pergunta em inglês. Eu insistia no coreano e a pessoa continuava
no inglês. Eu dizia que sabia coreano e parecia que tinha falado grego,
literalmente. E isso foi mais comum do que eu imaginava. Aconteceu diversas
vezes comigo. Enquanto você quer aprender o idioma deles, eles querem
aproveitar para praticar inglês também.
Ajhumas: Consideradas
o melhor que a Coreia tem a oferecer, as ajhumas (senhoras de meia idade com
personalidade forte) são as que reagem à presença de estrangeiros da forma mais interessante. Se você foi à Coreia e nunca apanhou de uma, sorte a sua. Algumas dão
tapas nas costas tão dolorosos que até deixam marcas. Mas não é que sejam
pessoas ruins. Elas são ótimas. Eu experimentei a força dessas mulheres duas
vezes. Uma ficou muito feliz com a minha presença, começou a rir sem parar e a dar tapinhas em mim. No dia seguinte, enquanto contava para uma amiga alemã o
que aconteceu, a gente se deparou com outra situação bem parecida.
Ajhuma que pediu para tirar foto comigo no Baekje Cultural Festival |
Muitas adoram a presença de estrangeiros e acham super diferente.
Por isso, ficam meio eufóricas e começam a falar alto contigo, riem apontando
pra você (não para zombar, mas por achar interessante), te cumprimentam
milhares de vezes. Eu ia muito com minha sogra ao SPA. As amigas dela sempre
ficavam curiosas e vinham falar com ela alguma coisa sobre mim. E sempre
ficavam impressionadas quando eu respondia algo em coreano. Coreanos, em geral,
têm muito orgulho do idioma deles.
Evangélicos: Há
muitas Testemunhas de Jeová e outras denominações de igrejas protestantes na
Coreia. E eles adoram converter estrangeiros. Eu sempre fui um ímã para
missionários diversos. Na primeira vez, achei a menina tão simpática. Ela disse
que queria praticar inglês, foi conversando, pediu meu telefone. Quando vi, já
estava quase indo ao culto, embora tivesse dito a ela repetidamente que eu era católica.
E fui abordada dezenas de vezes, mas, depois de um tempo, já percebia as
intenções do grupo e me esquivava. Eu confesso, no entanto, que sempre peguei
os lenços umedecidos e balinhas que eles dão de brindes.
Interessados em
praticar inglês: Conforme mencionado, vários coreanos abordam estrangeiros
para praticar inglês, desde criancinhas até idosos. Uma menina de uns 7 anos,
uma vez, me parou porque ela frequentava uma creche internacional e sabia
inglês. Esse idioma, dizem eles, é tão difícil que eles precisam aproveitar
cada oportunidade para fazer uso dele. Foram vários os casos de pessoas que
começaram a falar comigo do nada, em inglês sempre, querendo puxar assunto,
saber de onde eu sou. Teve um rapaz, certa vez, dentro de um ônibus, que gritou, apontando pra mim,
em inglês, perguntando de onde eu era. Quando disse Brasil, ele ficou todo
empolgado, dizendo que sabia espanhol (?) e que queria muito conhecer meu país.
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Enfim, as reações dos coreanos a estrangeiros são quase
sempre positivas e em tom de surpresa e curiosidade. Não posso falar nada,
porque até eu mesmo, no Brasil, quando percebo que tem algum grupo falando
outro idioma, já fico super curiosa para saber de onde são. Inclusive, em alguns momentos, converso mesmo com eles e puxo assunto. Com os coreanos, é a mesma
coisa. O problema é só que, depois de um tempo morando no país, a gente não
acha mais tão bonitinho ser abordado várias vezes. Mas é algo inevitável e vai
continuar acontecendo sempre.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito obrigada pelo post tão legal sobre um assunto que eu estava curiosa.
ResponderExcluirPelo que você escreveu, é uma questão de saber encarar numa boa, né?
Já li relatos de muita gente que se irrita por menos do que você escreveu e leva má impressões de ser estrangeiro.
Acredito que realmente, pessoas negras como eu devam causar bastante estranhamento no meio asiático.
Quando faliu das ajhumas lembrei dos doramas. Pelo visto tem um que de caricato, mas elas realmente são empolgadas na "vida real".
Parabéns pelo blog!
Verdade, Cris Li. Eu sou compreensiva. Entendo que os coreanos convivem pouco com diferenças étnicas. Deve ser um choque ver pela primeira vez alguém que não seja oriental. E, pra você não pirar, tem que levar numa boa a questão de ser estrangeira, né? ^^
ResponderExcluircaraca que divertidooo
ResponderExcluirolá tudo adorei seu blog, queria saber uma pessoa como eu que não sabe por onde começa para ter cidadania por onde devo começa por mim ajudar?
ResponderExcluirEu tenho o sonho de conhece Seul e tokio
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