Translate

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Isso que é transporte público! – Parte 3 (Trem-bala)

Há umas duas semanas, eu estava assistindo na KBS (emissora pública de televisão coreana) uma reportagem sobre um novo trem-bala comprado pelo governo daqui, que é a versão atualizada do Korea Train Express (KTX, ou “keiti”, como o povo local carinhosamente chama). De acordo com o que eu entendi (com a ajuda do meu noivo), os vagões já estão prontos (e parecem como o protótipo da foto abaixo) e agora eles estão fazendo o processo de adaptação dos trilhos e plataformas de acordo com as necessidades do veículo.

Modelo experimental do novo trem-bala coreano
Foto: KORAIL

                Atualmente, a Coreia tem o sexto transporte mais rápido do mundo nesse gênero, com uma velocidade máxima que chega a 350km/h. Já a nova aquisição aumentaria esse limite para 430 km/h, o que faria com que o país dividisse com o Shinkansen, trem-bala japonês,  a quinta posição no ranking mundial feito este ano pelo Top Ten Collections. Só perderia para os modelos alemão (4º), chinês (3º), francês (2º) e para a nova versão japonesa, chamada Japan’s JR, que é a atual líder e pode alcançar incríveis 580km/h.


Atual padrão do KTX, que vai ganhar novo design

Trem-bala coreano liga Seul a Busan e Mokpo
                
O projeto do KTX antigo já era bonito, mas agora ele vai ficar ainda mais moderno e tecnológico, resultado do trabalho de professores de design industrial da Korea National University of Arts, em Seul. E é extremamente útil para cruzar o país em cerca de 3h. A malha ferroviária do país liga a capital sul-coreana a duas cidades litorâneas: Busan, na costa leste (330km); e Mokpo, no oeste (320km). E ambas têm Daejeon como hub, por ser a maior metrópole no centro da Coreia (o que é ótimo para mim).

O preço também não é tão absurdo assim. A primeira classe da viagem mais longa sai por 62 mil won (em torno de R$ 124), enquanto que a mesma passagem pela econômica custa 45 mil won (cerca de R$90). De Daejeon, por exemplo, eu não gasto mais que uns R$50 para qualquer lugar que eu vá, o que não é caro, se pensar nas facilidades que um transporte como esse oferece: conforto e rapidez. E você pode reservar sua passagem pelo site da Korail (empresa que administra o sistema ferroviário coreano), além de verificar online quantas vagas há disponíveis.



Conforto é um dos pontos positivos do KTX 

É possível também embarcar mesmo quando não há assento livre. Mas o passageiro paga um valor reduzido e pode desfrutar da viagem no bar que fica em um dos vagões (geralmente no de número quatro e não sei se tem algo a ver com a superstição oriental, que eu mencionei em um dos meus primeiros posts). Eles disponibilizam umas poltronas nesse lugar preferencialmente destinadas às pessoas da terceira idade e às outras prioridades. No entanto, nada impede que qualquer um sente lá.


Esse é o projeto interno do novo KTX: menos poltronas e mais conforto
Foto: KORAIL

Outro ponto interessante é que, para entrar nas plataformas ou dentro dos trens, não tem ninguém para receber a sua passagem. Dessa forma, eles apenas controlam a quantidade de pessoas por uma maquininha que um funcionário carrega enquanto passa pelas poltronas. Somente se ele achar que há alguma movimentação estranha, é que pede para ver os bilhetes. Caso contrário, está tranquilo.

 Eu já passei por essa revista quando embarquei no esquema de ficar em pé. Só que eu e meu namorado ficamos perto da parte de bagagens (localizada na interseção dos trens). O rapaz não gostou muito e pediu para ver nossas passagens. Mesmo mostrando, o cara ainda ficou emburrado. Engraçado que tinha um outro cara naquele setor de terno e gravata e não fizeram o mesmo com ele. Aparência é tudo, não?

O compartimento das bagagens onde há maquininhas de bebida e comida e duas cadeiras


Outro problema que eu tive com o KTX foi quando andei de bicicleta até Mokpo. É que eu não sabia que estava tendo um Grand Prix de Fórmula 1 na cidade. Quando chegamos à estação para comprar as passagens para voltar para Daejeon (como não existe linha de ônibus que conecte as duas cidades, era a única forma), às 17h, estava tudo esgotado até o fim do dia. Só conseguimos uma vaga (em pé, lógico), para o trem que partia às 23h. Mesmo assim, o serviço foi bom. E eles deixaram a gente carregar nossa bicicleta.

Estação de Mokpo, cheia de gringos e turistas que foram ver a corrida

Da primeira vez que peguei o KTX, no ano passado, foi engraçado que meu namorado me disse que a gente sairia às 8h. Achei que fosse a hora de sair de casa, mas esse era, na verdade, o horário que o trem partiria. E eu não sabia. Nós corremos loucamente para embarcar na composição com destino a Busan. E, finalmente, conseguimos. Só que, quando fomos sentar, tinha alguém no nosso lugar. Foi quando descobrimos que pegamos o trem do horário de 15 min antes do nosso. Conclusão: tivemos que ir em pé até Taegu para embarcarmos corretamente.


Mesmo com esses contratempos que eu tive com o trem-bala coreano, eu recomendo inteiramente que o turista use esse sistema. É bastante prático e simples (algumas vezes, nem tanto). Além disso, a visão da janela é encantadora. A Coreia tem paisagens lindas e montanhas únicas, que podem ser observadas de dentro do vagão. Sem contar nos rios e nas cidades mais iluminadas que pisca-pisca (algo que eu posso falar em outro post). Só de pensar, dá até vontade de viajar nessa belezura de novo.

Vista da janela do trem
 ------­­­­­­­----------

Esse foi o terceiro post da série “Isso que é transporte público!”, sobre os meios de locomoção na Coreia do Sul. As duas publicações anteriores podem ser lidas nos links abaixo. Embora eu tivesse dito que iria falar sobre metrô também, vou deixar isso para depois. 

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Isso que é transporte público! – Parte 2 (T-Money, o "Bilhete Único" coreano)

Pagar o táxi (ou até o ingresso para um parque de diversões) com “Bilhete Único”. Fazer cinco integrações pelo valor de apenas uma tarifa. Usar o cartão de crédito para custear o ônibus ou o metrô. Esses pequenos detalhes que tornam mais prático o transporte público podem soar um pouco distantes da realidade brasileira, mas já funcionam desde 2004 na Coreia do Sul. E tudo isso está inserido em um projeto chamado “T-Money”, que é uma série de cartões recarregáveis usados no transporte ou em lojas de conveniência. E o mais legal é que um sistema padronizado que funciona em todas as grandes metrópoles do país (que são só seis, incluindo Daejeon, onde eu estou morando) e em mais umas 20 cidades menores. 

Táxi com placa avisando que aceita o T-Money (atualmente quase toda a frota conta com a máquina) 

Isso significa que, se fosse no Brasil, eu poderia usar o meu “Bilhete Único” (BU) carioca para pegar o transporte em São Paulo, e, inclusive, pagar o meu almoço em uma loja de conveniência (que, embora não sejam comuns em território brasileiro, aqui na Coreia o que você mais vê na rua são essas redes abertas 24h. Ex: GS 25, CU, 7 Eleven, Ministop, entre outros). E eu adoro essa praticidade, que tem tudo a ver com o nome do sistema. O “T” de “T-Money”, é um genérico para vários conceitos como trânsito (traffic), tecnologia (technology), viagem (travel) e toque (touch). Na primeira vez que eu vim à Coreia, no final de 2012, eu tinha ficado abismada principalmente com o fato de que eu podia usar esse cartão para pagar o táxi. Depois de dois meses morando aqui, eu já me acostumei a ele e sou testemunha de como tem dado certo.

Máquina do T-Money para passar o cartão 

Basicamente, há várias opções de cartões recarregáveis, que custam entre 2,500 e 3,000 wons (em torno de uns R$5,50, em média) e dá para comprar em vários lugares, contando ainda com máquinas para recarregar. Um pouco parecido com o BU carioca nesse aspecto. A novidade coreana é que você pode vincular o seu cartão de débito do banco ao T-Money, o que pode ser um pouco perigoso, pois, se a pessoa for desastrada como eu, que vivo perdendo as coisas, já era. Como não precisa de senha, é muito fácil alguém acabar com todo o dinheiro do cartão quando achar na rua (depois faço um post explicando como funcionam os sistemas bancários). A diferença é que o povo aqui tem outra cultura. Eles não são tão malandros quanto os brasileiros e provavelmente procurariam um meio de devolvê-lo caso o encontrassem na rua. Mas aí é outra história.

Para usar o sistema, basta encostar o cartão na máquina que fica disposta próxima à porta de entrada do ônibus ao lado do motorista. Ou, se for metrô, é só passar na catraca. Ela vai emitir um barulhinho e dizer “obrigada” em coreano. Se der algum erro, existem outras mensagens gravadas, como “por favor, passe novamente o cartão” ou “saldo insuficiente”. Tudo em coreano. Para a integração funcionar, ao sair do veículo, é preciso encostar novamente o cartão em outra máquina perto da porta de saída, ou, no caso do metrô, em outra catraca. A partir desse momento, você tem 40 minutos para fazer a integração. Essa é uma ideia que funcionaria muito bem no Rio, onde o intervalo de 2h tinha sido muito criticado no início, já que às vezes a pessoa pode passar até mais de 3h dentro de um ônibus com aquele trânsito caótico. 
  
 Esse sinal verde aparece quando seu cartão é aceito (tanto na entrada quanto na saída)  

Descontos: Tarifas de integração e por idade

 Em Seul, que é uma das cidades no mundo com maior número de habitantes por m2, o sistema é bem complexo e o pessoal tem que ser muito bom em matemática. Mas também é possível instalar um aplicativo no celular para fazer essas contas por você. Quem tem um cartão do T-Money pode pegar até cinco transportes diferentes da mesma categoria (são quatro diferentes), pagando apenas o valor de uma tarifa, que varia entre 850 wons (R$1,70) e 1850 wons (uns R$3,60). Se o passageiro usar diferentes categorias, vale o maior preço (metrô é o mais caro, por exemplo). E a distância também é levada em conta. Essas tarifas são válidas se você percorrer até 10 km de distância. Acima disso, é cobrado mais 100 wons (R$0,20 por cada 5 km extras).


Eu fico doidinha em Seul com 19 linhas de metrô e muitos ônibus. Ainda bem que, em Daejeon, tudo é bem mais simples. Aqui, a passagem em dinheiro custa 1200 wons (cerca de R$2,40). Mas, com o T-Money, esse valor passa para 1100 wons (R$2,20). E é possível fazer três integrações utilizando o cartão, tanto entre ônibus quanto entre metrô e ônibus. A diferença do metrô é que, acima de 10 km, vale a mesma regra de Seul, com a cobrança de 100 wons (R$0,20) para cada 5km extras percorridos. Mas, nas estações, eles colocam placas (como as da foto abaixo) informando quanto você vai pagar dependendo do seu destino (e dá para checar no aplicativo do celular também).


   

Há ainda descontos por faixa etária. Quando se vai comprar o cartão do T-Money, há algumas opções com valores reduzidos para crianças e adolescentes. Até os seis anos de idade e acima dos 65 anos, a tarifa sai de graça. Mas em Daejeon, por exemplo, quem tem entre 7 e 12 anos paga apenas 350 wons (uns R$0,70) e, para adolescentes de 13 a 18 anos, o valor passa para 750 wons (R$ 1,50).  Para fazer esse cartão, é preciso comprovar a idade por meio de um “Youth Card” ou uma carteira de estudante. No entanto, mesmo sem o cartão do T-Money, há tarifas diferenciadas para crianças e adolescentes que paguem em dinheiro (a tabela abaixo mostra isso).



Eu adoro Daejeon, porque é uma metrópole com cara de interior. Sua população é de “apenas” 1,5 milhão de habitantes, com uma área de 540 km2. Já Seul conta com mais de 10 milhões de pessoas circulando por um território com somente 605 km2 de extensão.  Só para comparar, o Rio de Janeiro, minha cidade natal, tem cerca de 6 milhões de habitantes em quase 1,2 mil km2 (o dobro do espaço urbano de Seul), enquanto na maior metrópole brasileira, São Paulo, mais de 11 milhões de pessoas moram em uma área de mais de 1,5 mil km2. A questão é que a Coreia tem muita gente para pouco espaço (embora eu tenha percebido que aqui é maior do que eu imaginava). Por isso, eles têm que se virar para fazer um transporte eficiente. O mais impressionante é que as coisas funcionam muito bem. Mas eu tenho esperanças de que um dia o carioca também possa ter orgulho de seu sistema de transporte. Tomara!

---

 Esse foi o segundo post da série "Isso que é transporte público!" sobre os sistemas de mobilidade urbana na Coreia do Sul. O primeiro pode ser lido aqui e foi publicado há umas duas semanas. O próximo será sobre os sistemas de transporte rápidos, como corredores de ônibus, metrô e trem-balas. E o legal é que esse mês teve uma novidade interessante sobre esse assunto.

domingo, 3 de novembro de 2013

Isso que é transporte público! – Parte 1 (Ônibus municipais)

Como nos últimos posts eu só mencionei minha locomoção por bicicleta, achei que estava na hora de falar do transporte público da Coreia (principalmente do de Daejeon). Esse é um assunto que renderia teses e teses de mestrado e doutorado e a questão é que é muito difícil você se perder quando se pega um ônibus, por exemplo (ainda mais se você consegue ler algo de coreano). Já o metrô de Daejeon é simples até demais, porque conta apenas com uma linha, diferentemente do de Seul, que tem 19 (sendo nove municipais e o restante metropolitano).

Um guia das rotas de ônibus de Daejeon, que peguei na International Community   

 Quando o tema é transporte público, a Coreia realmente é um modelo: wi-fi dentro de todos os modais, sistema de anúncio da próxima parada nos ônibus, aplicativo no celular que te diz a posição exata da linha que você deseja pegar (tem o mesmo nos pontos), integração ônibus-metrô com possibilidade de pegar entre três e cinco tipos de transportes diferentes pagando uma só tarifa (que em média custa o equivalente a um dólar). A lista de benefícios é grande e olha que não cheguei nem na metade.

Para conseguir visualizar melhor essa maravilha, pense em quando você chega num ponto de ônibus em Daejeon e se depara com algo assim: 


 
No fundo de todas as marquises dessas paradas, você encontra diversos mapas da cidade. Cada mapa mostra uma região e todas as opções que existem para poder chegar onde se deseja. Isso é muito útil até para os moradores locais. Quando eles estão indo a algum lugar desconhecido, podem ficar mais tranquilos para achar o melhor caminho no próprio ponto. Simples assim, como se vê abaixo:



A telinha no canto direito da primeira foto é a que informa as linhas que param naquele ponto, o destino delas e a localização do próximo ônibus. Quando um deles está se aproximando, uma voz informa que dentro de instantes a linha tal chegará àquele local, o que também pode ser acompanhado pelo celular. Isso me tem sido muito útil. Antes de sair de casa, eu sempre checo quanto tempo meu ônibus vai demorar. Se eles dizem quatro minutos, saio correndo. Se for dez minutos ou mais, dá até para fazer um lanchinho extra.





Dentro dos ônibus, o passageiro tem wi-fi gratuito e até um relógio mostrando a hora naquele momento. Há várias placas informativas contendo os horários de circulação daquele veículo, com os nomes de todas as “estações” daquela linha. Além de estar escrito, ainda há uma gravação anunciando a cada parada os nomes dos dois próximos pontos.





O problema disso é que tanto as placas quanto a voz geralmente são apenas em coreano, o que restringe um pouco o alcance dos turistas. A única informação que também é dita em inglês é quando a parada tem integração com o metrô ou é uma universidade ou ponto turístico famoso. Se você quiser fugir desses lugares badalados, que se vire para entender o idioma.

Outra coisa positiva é que todos os ônibus têm ar-condicionado ou aquecedor. Mas, não sei se os motoristas são treinados para usar esses recursos apenas em casos extremos, porque geralmente fica um calor infernal dentro dos ônibus, mas ninguém abre a janela. Realmente não entendo porque os coreanos não fazem isso. No início, eu até achava que não tinha como abri-las. Até que um dia eu sentei perto da janela e me dei conta de que minha intuição estava errada. Só sei que quase sempre eu frito lá dentro, mesmo quando está uns 5ºC lá fora... Vai entender.



Bom, como esse assunto de transporte público é muito extenso, vou deixar para falar de tarifas, trem-balas, metrôs e ônibus intermunicipais em outros posts.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O temido número quatro

Nossa, realmente me superei dessa vez. Fiquei mais de duas semanas sem escrever nada e parte da culpa é do meu laptop, que teve um pequeno problema de memória cheia. Acho que ele não aguentou a imensa quantidade de fotos que eu tirei esses dias. A questão é que, durante esse tempo, fiz tanta coisa que nem sei por onde começar. Participei de mais festivais; fui a show gratuito das Crayon Pop, que só têm uma música grude de sucesso (chamada Papapa); fiz parte do Dia do Hageul (sistema de escrita da península); apareci na TV; tive crise de abstinência de açaí, ainda completei mais um rio do 4Rivers – o Yeongsangang – e passei meu recorde diário de pedalada de 100km para 148km. Além disso, dia 8 de outubro fez um mês desde que cheguei à Coreia e nem comprei um bolo para comemorar.

Acima de tudo, meu tempo estava curto também porque tive muito o que estudar para as provas mensais do curso de coreano. Pelo menos, meu esforço foi recompensado. O resultado foi que entrei em segundo lugar no ranking dos melhores alunos da turma, com uma média de 95%, apenas atrás da Imjong, uma das chinesas da sala que tirou 98%. E eu achei que seria pior, principalmente porque foram dois dias de exames, quase 4h cada, sendo “fala” e “escrita” na segunda-feira e “gramática”, “interpretação de texto” e “escuta” na terça-feira. O que ajudou também foi que, para melhorar minhas habilidades no idioma, decidi começar na semana passada aulas gratuitas extras de coreano oferecidas por um órgão do governo chamado Daejeon International Community Center (DICC). Então, toda segunda e terça, saio 13h correndo da universidade de Chungnam para chegar às 14h ao DICC – que é meio longe - para mais quatro horas de estudo semanais.

E foi quando eu entrei para o DICC que me dei conta de que o número quatro tem me perseguido na Coreia. Na faculdade, todas as salas de aula do curso de coreano para estrangeiros são no quarto andar. E o mesmo acontece com o curso do DICC, o que é muito engraçado, visto que a tetrafobia é um pouco forte aqui. Em muitos países orientais, as pessoas têm aversão ao número quatro. É uma superstição comum na China, Japão, Taiwan, Malásia, Singapura e Vietnã. E tudo porque os caracteres chineses para quatro têm som muito semelhante à palavra morte, o que também acontece com as palavras japonesa e coreana. No Japão, para não dizer a palavra quatro do mal, eles têm uma outra leitura para o mesmo número.

Por esse motivo, na Coreia, assim como nos países acima citados, para evitar essa aparição desagradável, quase não se vê o quarto andar em edifícios públicos. E eu acho estranho olhar para um elevador em que falta um número. O mesmo vale para 14, 24 e todas as combinações que contenham o algarismo. No condomínio em que estou morando aqui, observei logo no início que os prédios eram numerados com algumas falhas na contagem, como se vê na foto abaixo. Reparem que não existe 104 nem 114. E, na universidade, embora eles coloquem todos os estrangeiros no quarto andar (tipo: morram todos), as salas geralmente pulam as terminações com o temido algarismo.  E olha que a tetrafobia por aqui não é tão extrema. Imagina se fosse... 
  




Essas superstições levaram minha amiga alemã, Julia Dumin, a pensar que é super azarada. Outro dia, estava tendo uma feira de carreira voltada para os alunos da Engenharia no campus da Chungnam National University (CNU). Eu, como sou curiosa, decidi participar e convidei Julia e uma outra colega chinesa, a Xie Xue Xia, para fazer algumas das atividades. Havia uma brincadeira que dava prêmios se você acertasse o alvo. Assim que vi, corri com elas para jogar e checar se conseguiamos algo. Havia brindes para quase todos os números, menos o 0 e o 4. Eu e Xie Xua acertamos o 3 e ganhamos um lencinho umedecido, mas o dardo da Julia foi parar logo no 4. Só que ela não sabia da tetrafobia e ficou toda triste pensando por que, mesmo sendo um algarismo a mais que o nosso, ela não ganhou nada. Isso significa que o número, além de causar medo, ainda pode te dar prejuízo. Que morra o quatro!  

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Outono: overdose de festivais coreanos

Fiquei um bom tempo sem postar nada, mas estou de volta. E, durante esse período em que fiquei fora, estive ocupada estudando, andando mais de 200km de bicicleta (cansativo, mas, pelo menos, consegui completar o desafio do rio Geum - 금강), indo ao spa coreano (os onchon - 온촌) e pensando na grande quantidade de festivais que estão acontecendo por toda a Coreia esses dias. Setembro e outubro, por marcarem o início do outono e da época de colheita no país, são os meses mais propícios às festanças e aos feriados. E o legal é que os coreanos adoram essas celebrações.  Mesmo sendo muitas, todas as que fui estavam lotadas, como mostra a foto:
 

No meu curso de coreano, a professora havia anunciado que teríamos um dia de atividades culturais na semana passada. Não sabia exatamente o que iríamos fazer, mas, no dia, descobri que seria um passeio ao Festival de Medicina Tradicional de Sancheong, cidade onde fica localizada a segunda montanha mais alta da Coreia do Sul: o Jiri-san (a maior é o Halla-san, na ilha de Jeju). E, apesar de ser uma sexta-feira de manhã, tinha tanta gente que mal se conseguia andar. E o lugar era completamente incrível e didático! Valeu a pena a visita, que me fez conhecer muito mais sobre a medicina coreana (que é algo que tenho vivido diariamente e que vou explicar melhor mais para a frente).



  Foto: Takase Susumu

   Foto: Takase Susumu

   Foto: Takase Susumu

Além desse passeio, eu e meu noivo andamos de bicicleta no fim de semana por algumas cidades do centro-oeste do país e pude presenciar um dos festivais nacionais mais tradicionais: o Baekjae Cultural Festival. Para quem não sabe, Baekjae era um dos países que se juntou no processo de formação da Coreia. Mas é legal que eles ainda gostam de manter as raízes, com suas próprias vestimentas e pratos locais típicos. As comemorações começaram exatamente no dia em que passei por lá. Era início de tarde e a praça de exposições estava muito cheia. A parte boa é que os vendedores ofereciam amostras grátis bem generosas, o que fez com que eu experimentasse de tudo e ficasse alimentada.




 No caminho, ainda descobri vários outros festivais, como o de Buryeo, Iksan, ambos divulgando as delícias de sua agricultura e da culinária local. Já em Gunsan, na costa oeste coreana, havia um evento especial por se tratar do período de migração dos pássaros para o sul do país. Como há um observatório de aves famoso na cidade, o local estava oferecendo ingressos a um valor bem barato, com a possibilidade de apreciar uma grande diversidade de diversos tipos de animais, inclusive peixes, insetos e até coelhos e veados. Além disso, aqui em Daejeon, já teve festival de vinhos, de ginseng, de música, além de vários outros. Assim, fica difícil escolher o melhor ou o que fazer no fim de semana.





domingo, 22 de setembro de 2013

Pedalando pelos quatro rios coreanos

Como já mencionei no primeiro post, ciclovia é algo que não falta na cidade de Daejeon. Mas essa não é uma exclusividade local. Para quem curte pedalar, por exemplo, há disponíveis 630km desse tipo de via em todo o entorno dos quatro rios sul-coreanos (Hangang, Geumgang, Yeongsangang, Nakdonggang). E, desde o início do ano, eu estava ansiosa para poder participar de um dos maiores desafios do país: o Korea’s 4 Rivers CrossCountry Cycling Road TourMeu noivo, que é quase um ciclista profissional, foi quem me apresentou essa ideia do governo coreano para incentivar o esporte.

O projeto funciona de forma bem simples. O interessado se dirige a algum dos pontos cadastrados (geralmente uma das estações do 4Rivers) e tira seu “passaporte” de bicicleta, que custa 4 mil won sul-coreanos (o equivalente a 8 reais). Depois, começa a recolher carimbos em cada uma das diversas estações criadas para esse torneio. Ao todo, são 630km de percurso e, embora sejam apenas quatro rios, eles foram divididos em oito etapas diferentes. E cada vez que o participante encerra uma missão, recebe um selo. Ao completar todos os rios, ganha uma medalha.




Além disso, quem adicionar ao desafio uma volta na ilha de Jeju (338km), ainda conta com um prêmio especial no que eles chamam de Grand Slam. Eu achei tão emocionante que já estou me preparando para isso. Desde que cheguei a Daejeon, tenho andado de bicicleta quase que diariamente. Aconselhada pelo meu noivo, eu comprei uma Strida, que é um projeto britânico de bike dobrável. No início, eu não gostava muito, mas tenho me acostumado a pedalá-la (como mostram as fotos abaixo). A questão é que, definitivamente, ela não serve para fazer o longo percurso do 4Rivers, por ser lenta e ter um guidão péssimo de controlar.




Então, tenho utilizado a mountain bike que meu noivo montou para o pai dele e, felizmente, está dando certo. Consegui ir até o Daecheon Dam, uma represa localizada na cidade de Daejeon, que é a estação final do rio Geum (Geumgang), um dos integrantes do 4Rivers. Foram 20km para ir e mais 20km para voltar e, até agora, esse foi meu recorde de ciclismo, já que não estava acostumada a fazer esse tipo de exercício. A parte boa é que já peguei meu primeiro carimbo do desafio e espero conseguir completar o percurso de 146km do Geumgang no próximo fim de semana. Até lá, sei que terei que pedalar bastante. Haja fôlego!