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domingo, 22 de setembro de 2013

Pedalando pelos quatro rios coreanos

Como já mencionei no primeiro post, ciclovia é algo que não falta na cidade de Daejeon. Mas essa não é uma exclusividade local. Para quem curte pedalar, por exemplo, há disponíveis 630km desse tipo de via em todo o entorno dos quatro rios sul-coreanos (Hangang, Geumgang, Yeongsangang, Nakdonggang). E, desde o início do ano, eu estava ansiosa para poder participar de um dos maiores desafios do país: o Korea’s 4 Rivers CrossCountry Cycling Road TourMeu noivo, que é quase um ciclista profissional, foi quem me apresentou essa ideia do governo coreano para incentivar o esporte.

O projeto funciona de forma bem simples. O interessado se dirige a algum dos pontos cadastrados (geralmente uma das estações do 4Rivers) e tira seu “passaporte” de bicicleta, que custa 4 mil won sul-coreanos (o equivalente a 8 reais). Depois, começa a recolher carimbos em cada uma das diversas estações criadas para esse torneio. Ao todo, são 630km de percurso e, embora sejam apenas quatro rios, eles foram divididos em oito etapas diferentes. E cada vez que o participante encerra uma missão, recebe um selo. Ao completar todos os rios, ganha uma medalha.




Além disso, quem adicionar ao desafio uma volta na ilha de Jeju (338km), ainda conta com um prêmio especial no que eles chamam de Grand Slam. Eu achei tão emocionante que já estou me preparando para isso. Desde que cheguei a Daejeon, tenho andado de bicicleta quase que diariamente. Aconselhada pelo meu noivo, eu comprei uma Strida, que é um projeto britânico de bike dobrável. No início, eu não gostava muito, mas tenho me acostumado a pedalá-la (como mostram as fotos abaixo). A questão é que, definitivamente, ela não serve para fazer o longo percurso do 4Rivers, por ser lenta e ter um guidão péssimo de controlar.




Então, tenho utilizado a mountain bike que meu noivo montou para o pai dele e, felizmente, está dando certo. Consegui ir até o Daecheon Dam, uma represa localizada na cidade de Daejeon, que é a estação final do rio Geum (Geumgang), um dos integrantes do 4Rivers. Foram 20km para ir e mais 20km para voltar e, até agora, esse foi meu recorde de ciclismo, já que não estava acostumada a fazer esse tipo de exercício. A parte boa é que já peguei meu primeiro carimbo do desafio e espero conseguir completar o percurso de 146km do Geumgang no próximo fim de semana. Até lá, sei que terei que pedalar bastante. Haja fôlego!







quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Chuseok, a mais tradicional festa coreana

Desde que cheguei em Daejeon, eu só vejo as pessoas falando do Chuseok (추석), o dia de ação de graças coreano. Nas lojas e supermercados, já tinha me acostumado com o que eles chamam de “gift set”, ou seja, uma combinação de itens de comida (caros) para presentear os familiares. Achei até desses embrulhos personalizados com produtos de higiene pessoal, tipo shampoo e condicionador. O mais engraçado para mim foram os pacotes de carne (como na foto abaixo). E, embora já tivesse ouvido falar bastante desse feriado coreano, eu ainda não sabia como ele era comemorado na prática.


           O Chuseok (추석) ou Hangawi (한가위) acontece exatamente hoje (dia 19/09) e, depois de estudar as tradições dessa data e vivenciar isso nos últimos dias, percebi como ele tem se tornado um feriado basicamente comercial (infelizmente, assim como as festas de Natal e Páscoa nos países ocidentais), o que ajuda a fortalecer ainda mais a cultura sul-coreana do “dar para receber”. Na verdade, deveria ser uma festa para agradecer aos ancestrais pela colheita do ano e dividir essa alegria com amigos e familiares. Sempre cai em dia de lua cheia (é o 15º dia do oitavo mês do calendário lunar), porque os povos antigos da Coreia acreditavam que, como o sol estava sempre lá, a presença da lua em sua plenitude era uma benção para eles.

(Fonte: Visit Korea)
        Ainda se tenta manter viva essa harmonia de compartilhar comida, histórias, visitar o túmulo dos antepassados (depois posto algo falando sobre tradições funerárias na Coreia), mas acho que as pessoas se preocupam demais com a parte financeira. Eu tenho sentido bastante isso com a família do meu noivo. O pai dele é o mais novo dos 12 irmãos. Isso significa que ele teve que comprar presentes para todos eles e que talvez não fosse receber nada (pela questão hierárquica). Em relação ao restante dos familiares, a regra é clara: só se dá algo no mesmo valor que foi recebido.

            Por exemplo, a irmã do Jerry deu o equivalente a R$600 para a família de presente pelo Chuseok. Então, a mãe dele deu R$500 para a filha, um pouco menos porque ela ficou hospedada na casa deles durante o fim de semana. É uma conta bem justa. Mas sinto algo estranho nessas relações sociais. Para mim, parece que o valor afetivo não importa muito. E o engraçado é que, quando não é dinheiro, a maior parte dos presentes são comidas. Essa é a festa da colheita. Então, faz sentido. O pior é o preço dos presentes.

            Eu já comecei tendo uma experiência com o Chuseok na minha primeira semana aqui, quando comprei um celular pela internet. Como na Coreia as entregas são geralmente rápidas, ele era para ter chegado, no máximo, dois dias depois. Mas, por causa da festa, os correios estavam abarrotados com entregas. Jerry se irritou com o atraso de um dia e decidiu pegar a nossa encomenda na central dos correios que fica quase fora dos limites da cidade de Daejeon. Quando chegamos lá, me assustei com a quantidade gigante de caixas e pilhas que deveriam ser entregues por causa do Chuseok e isso foi exatamente uma semana antes do feriado.

          No outro dia, fomos à central de distribuição de frutas, verduras e legumes de Daejeon (um mercado semelhante à Ceasa). E o lugar estava muuuuito cheio. Tinha tanta gente que eu quase não conseguia andar. Aí, decidi olhar o preço dos embrulhos que eles prepararam como presente pelo Chuseok. Uma caixa com dez maçãs (gigantes) saía a equivalente R$150 (na atual cotação do won sul-coreano). Havia outra embalagem com doze pêras coreanas (também grandes) que era mais em conta, uns R$70. Achei até uma bandeirinha do Brasil enfeitando o lugar (fotos abaixo).





            Mas hoje, que é o dia do Chuseok, não se encontra nada aberto na rua. O legal é que todos estão em casa. Vi uma criancinha graciosa vestindo hanbok (한복), a roupa tradicional coreana. Não se veem muitos carros andando por aí. Isso significa que as tradições ainda falam mais alto e os coreanos se mantêm com suas famílias, comendo e se divertindo do jeito que deve ser. Pelo menos durante o dia, a parte comercial ainda fica de fora e vem o verdadeiro sentido da festa de ação de graças: agradecer por todos estarem unidos.         

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Vida de estudante na Chungnam National University (CNU)

No último domingo (15/09), completou-se uma semana desde que cheguei na Coreia, mas o tempo passou tão rápido que parece que foi ontem. Ao mesmo tempo, eu fiz tanta coisa que sinto como se já estivesse aqui há meses. Escalei montanha em nível avançado, visitei uma barragem, andei 40km de bicicleta, fui ao spa, comi tteok-mandu-kuk, estudei, estudei e estudei mais um pouco. E, nos próximos cinco dias, vou descansar bastante durante o feriado de Ação de Graças (ou 추석 [Chuseok], como dizem os coreanos). Mas hoje vou falar um pouco sobre essa vida de estudante.

Bom, para ilustrar melhor a situação, qual imagem vem à mente quando se pensa em uma universidade na Coreia (ou China ou Japão)? Primeiramente, a maioria dos estudantes e professores têm o mesmo biotipo, não é? Traços semelhantes, com pele clara e olhos puxados. Mas, então, você imagina que, pelo menos, a turma de coreano para estrangeiros vai estar cheia de pessoas diferentes.

A surpresa que tive é que embora as estatísticas da universidade mostrem que apenas 40% dos intercambistas seriam chineses, os meus primeiros dias demonstraram que esses números precisam ser revistos. Os alunos da China devem compor mais de 70% de um total de 200 pessoas. Só na minha turma, de 13 alunos, há apenas três não-chineses: eu (brasileira), a Julia Dumin (alemã) e o Takase Susumu (japonês). E esse último não conta porque também é oriental.

Isso quer dizer que eu sou a única americana na minha turma e, juntamente com a alemã, faço parte do restrito número de não-asiáticos da universidade de Chungnam, em Daejeon. E justamente foi com ela que eu me juntei, porque o nível de inglês da maior parte dos chineses é extremamente básico. Aliás, pelo que eu percebi, acho que sou a única brasileira por lá. Já encontrei uma paraguaia, um equatoriano, alguns mexicanos (que vão formando seus próprios grupinhos fechados), mas até agora nenhum sinal de meus compatriotas.

Abaixo, segue uma foto do prédio de “Letras”.  



Desafios do cotidiano

O maior desafio desde que comecei a estudar coreano na CNU foi o meu primeiro dia de aula. Quer dizer, no que eu achei que fosse o primeiro dia de aula. Quando fui à universidade no dia e hora marcados para iniciar o curso, não havia nenhuma indicação sobre turma, sala ou qualquer outra informação. Perguntamos no setor responsável e disseram para esperar na recepção. De repente, chegaram diversos alunos perdidos como eu.

Foi quando o Jerry me disse que tinha um aviso escrito somente em coreano num cantinho escondido do mundo dizendo que haveria uma cerimônia de recepção aos novos alunos e depois um teste de nivelamento. Quando chequei meu nome, vi que eles me colocaram para fazer a prova do nível dois (dentre seis). A aula em si só começaria na terça-feira e, portanto, um dia depois.

Bom, o evento inicial foi apresentado somente em coreano, o que fez com que metade das pessoas não entendesse nada. Depois, me encaminharam para o teste, que era tão difícil que eu só consegui responder uma questão. Aí, fui enviada para tentar a prova para o nível um e foi nesse que fui alocada.
  
As aulas têm sido extremamente tranquilas. A professora, Kim Hyung Suk, é muito doidinha e fica batendo com o bastão em formato de dedo do Mickey o tempo todo no quadro branco para a gente consertar nossa pronúncia (ainda bem que ela não teve a ideia de acertar os alunos com aquilo). Por ser voltada a iniciantes, a matéria é bem fácil, mas é melhor começar do zero e fazer direito que ir para uma aula em que eu não conseguiria acompanhar o ritmo. Uma bolsista da Etiópia me disse que o nível 2 é bem tenso (imagina o 6)!

Como ainda não tenho foto com meus colegas de classe, tirei pelo menos algumas do campus e dos arredores:  
    





quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Minha jornada oriental

Para iniciar esse blog da forma como deve ser, vou explicar um pouquinho por que ele existe e como surgiu a ideia de criá-lo. Tudo começou quando eu, uma jornalista carioca de 23 anos, decidi fazer intercâmbio e estudar o idioma coreano na Coreia do Sul. Cheguei ao país no dia 8 de setembro e, durante seis meses, passarei meus dias na cidade de Daejeon, a quinta maior do país, localizada bem no centro da Coreia (como mostra a foto). Desde a segunda-feira (09/09), a Chungnam National University (CNU) está me acolhendo como nova estudante intercambista.



Sobre o município, os seoulistas – e outros que não a conhecem direito – dizem que não há nada, só a Kaist (Korea Advanced Institute of Science and Technology) - que está entre as dez melhores universidades da Ásia e é referência em assuntos tecnológicos. Já os habitantes locais defendem a cidade, com o argumento de que é um lugar tranquilo para morar, limpo e com ar fresco (e eu acrescentaria uma atmosfera meio rústica, tipo campo misturado com cidade grande, como na foto abaixo). 

No meio dessas duas versões, é possível afirmar que Daejeon tem muitos encantos. O povo da capital estava certo em parte: não há muita vida noturna nem agitação com bares e casas de show. Isso é verdade. Mas a cidade está longe de se resumir somente à Kaist. É um dos melhores lugares para andar de bicicleta na Coreia, com quase toda a cidade coberta por ciclovias, além de ser bem arborizada e segura. É um caso a ser estudado.



Na verdade, só vou poder falar com mais propriedade sobre a cidade depois de conhecê-la melhor. Eu já a havia visitado em novembro de 2012, mas agucei meu olhar para perceber certas coisas só nos últimos três dias, quando comecei a usufruir de tudo a que tenho direito nela. Por enquanto, vou fazendo minhas observações sobre Daejeon, o povo coreano, a cultura e tudo o que eu achar interessante ou diferente da minha realidade.

Por que Daejeon e a Chungnam University?

Certas pessoas, principalmente os moradores daqui, me perguntam por que raios eu escolhi Daejeon como meu local para intercâmbio. E a resposta é muito simples. É a cidade do meu noivo. Se não fosse pelo Choi Byungkyoun (que eu conheci como Jerry Choi), eu nem saberia da existência desse lugar, o que seria uma pena, embora Busan e Seoul pareçam ser ótimas opções.

Já para chegar à universidade de Chungnam, eu olhei a longa lista de opções para estrangeiros que querem estudar o idioma na cidade de Daejeon por meio do site http://www.livingindaejeon.or.kr/en/sub03/sub030504.php. Foi pesquisando por preços, datas e condições que eu acabei escolhendo essa instituição pública de ensino. E, mesmo com todos os problemas e falta de informação até o início do curso, acho que é um investimento que vale a pena. O lugar é lindo e tudo o mais, minha professora é doidinha e a estrutura é boa. Esse aqui é o mapa do campus.




 E, para encerrar, uma foto minha na cafeteria que tem no prédio onde estudo na CNU no meu primeiro dia de aula.