Desde
que cheguei em Daejeon, eu só vejo as pessoas falando do Chuseok (추석), o dia de ação de graças coreano. Nas lojas e
supermercados, já tinha me acostumado com o que eles chamam de “gift set”, ou seja, uma combinação de itens de comida (caros) para presentear os familiares. Achei até
desses embrulhos personalizados com produtos de higiene pessoal, tipo shampoo e
condicionador. O mais engraçado para mim foram os pacotes de carne (como na
foto abaixo). E, embora já tivesse ouvido falar bastante desse feriado coreano,
eu ainda não sabia como ele era comemorado na prática.
O
Chuseok (추석) ou Hangawi (한가위) acontece exatamente
hoje (dia 19/09) e, depois de estudar as tradições dessa data e vivenciar isso
nos últimos dias, percebi como ele tem se tornado um feriado basicamente comercial
(infelizmente, assim como as festas de Natal e Páscoa nos países ocidentais), o
que ajuda a fortalecer ainda mais a cultura sul-coreana do “dar para receber”. Na
verdade, deveria ser uma festa para agradecer aos ancestrais pela colheita do
ano e dividir essa alegria com amigos e familiares. Sempre cai em dia de lua cheia (é o
15º dia do oitavo mês do calendário lunar), porque os povos antigos da Coreia
acreditavam que, como o sol estava sempre lá, a presença da lua em sua
plenitude era uma benção para eles.
(Fonte:
Visit Korea)
Ainda
se tenta manter viva essa harmonia de compartilhar comida, histórias, visitar o
túmulo dos antepassados (depois posto algo falando sobre tradições
funerárias na Coreia), mas acho que as pessoas se preocupam demais com a parte
financeira. Eu tenho sentido bastante isso com a família do meu noivo. O pai
dele é o mais novo dos 12 irmãos. Isso significa que ele teve que comprar
presentes para todos eles e que talvez não fosse receber nada (pela questão
hierárquica). Em relação ao restante dos familiares, a regra é clara: só se dá algo
no mesmo valor que foi recebido.
Por
exemplo, a irmã do Jerry deu o equivalente a R$600 para a família de presente
pelo Chuseok. Então, a mãe dele deu R$500 para a filha, um pouco menos porque
ela ficou hospedada na casa deles durante o fim de semana. É uma conta bem
justa. Mas sinto algo estranho nessas relações sociais. Para mim, parece que o
valor afetivo não importa muito. E o engraçado é que, quando não é dinheiro, a
maior parte dos presentes são comidas. Essa é a festa da colheita. Então, faz
sentido. O pior é o preço dos presentes.
Eu
já comecei tendo uma experiência com o Chuseok na minha primeira semana aqui, quando
comprei um celular pela internet. Como na Coreia as entregas são geralmente
rápidas, ele era para ter chegado, no máximo, dois dias depois. Mas, por causa
da festa, os correios estavam abarrotados com entregas. Jerry se irritou com o
atraso de um dia e decidiu pegar a nossa encomenda na central dos correios que
fica quase fora dos limites da cidade de Daejeon. Quando chegamos lá, me
assustei com a quantidade gigante de caixas e pilhas que deveriam ser entregues
por causa do Chuseok e isso foi exatamente uma semana antes do feriado.
No
outro dia, fomos à central de distribuição de frutas, verduras e legumes de
Daejeon (um mercado semelhante à Ceasa). E o lugar estava muuuuito cheio. Tinha
tanta gente que eu quase não conseguia andar. Aí, decidi olhar o preço dos
embrulhos que eles prepararam como presente pelo Chuseok. Uma caixa com dez
maçãs (gigantes) saía a equivalente R$150 (na atual cotação do won sul-coreano).
Havia outra embalagem com doze pêras coreanas (também grandes) que era mais em
conta, uns R$70. Achei até uma bandeirinha do Brasil enfeitando o lugar (fotos
abaixo).
Mas
hoje, que é o dia do Chuseok, não se encontra nada aberto na rua. O legal é que
todos estão em casa. Vi uma criancinha graciosa vestindo hanbok (한복), a roupa tradicional
coreana. Não se veem muitos carros andando por aí. Isso significa que as
tradições ainda falam mais alto e os coreanos se mantêm com suas famílias,
comendo e se divertindo do jeito que deve ser. Pelo menos durante o dia, a parte comercial ainda fica de fora e vem o verdadeiro sentido da festa de ação de graças: agradecer por
todos estarem unidos.
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