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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O temido número quatro

Nossa, realmente me superei dessa vez. Fiquei mais de duas semanas sem escrever nada e parte da culpa é do meu laptop, que teve um pequeno problema de memória cheia. Acho que ele não aguentou a imensa quantidade de fotos que eu tirei esses dias. A questão é que, durante esse tempo, fiz tanta coisa que nem sei por onde começar. Participei de mais festivais; fui a show gratuito das Crayon Pop, que só têm uma música grude de sucesso (chamada Papapa); fiz parte do Dia do Hageul (sistema de escrita da península); apareci na TV; tive crise de abstinência de açaí, ainda completei mais um rio do 4Rivers – o Yeongsangang – e passei meu recorde diário de pedalada de 100km para 148km. Além disso, dia 8 de outubro fez um mês desde que cheguei à Coreia e nem comprei um bolo para comemorar.

Acima de tudo, meu tempo estava curto também porque tive muito o que estudar para as provas mensais do curso de coreano. Pelo menos, meu esforço foi recompensado. O resultado foi que entrei em segundo lugar no ranking dos melhores alunos da turma, com uma média de 95%, apenas atrás da Imjong, uma das chinesas da sala que tirou 98%. E eu achei que seria pior, principalmente porque foram dois dias de exames, quase 4h cada, sendo “fala” e “escrita” na segunda-feira e “gramática”, “interpretação de texto” e “escuta” na terça-feira. O que ajudou também foi que, para melhorar minhas habilidades no idioma, decidi começar na semana passada aulas gratuitas extras de coreano oferecidas por um órgão do governo chamado Daejeon International Community Center (DICC). Então, toda segunda e terça, saio 13h correndo da universidade de Chungnam para chegar às 14h ao DICC – que é meio longe - para mais quatro horas de estudo semanais.

E foi quando eu entrei para o DICC que me dei conta de que o número quatro tem me perseguido na Coreia. Na faculdade, todas as salas de aula do curso de coreano para estrangeiros são no quarto andar. E o mesmo acontece com o curso do DICC, o que é muito engraçado, visto que a tetrafobia é um pouco forte aqui. Em muitos países orientais, as pessoas têm aversão ao número quatro. É uma superstição comum na China, Japão, Taiwan, Malásia, Singapura e Vietnã. E tudo porque os caracteres chineses para quatro têm som muito semelhante à palavra morte, o que também acontece com as palavras japonesa e coreana. No Japão, para não dizer a palavra quatro do mal, eles têm uma outra leitura para o mesmo número.

Por esse motivo, na Coreia, assim como nos países acima citados, para evitar essa aparição desagradável, quase não se vê o quarto andar em edifícios públicos. E eu acho estranho olhar para um elevador em que falta um número. O mesmo vale para 14, 24 e todas as combinações que contenham o algarismo. No condomínio em que estou morando aqui, observei logo no início que os prédios eram numerados com algumas falhas na contagem, como se vê na foto abaixo. Reparem que não existe 104 nem 114. E, na universidade, embora eles coloquem todos os estrangeiros no quarto andar (tipo: morram todos), as salas geralmente pulam as terminações com o temido algarismo.  E olha que a tetrafobia por aqui não é tão extrema. Imagina se fosse... 
  




Essas superstições levaram minha amiga alemã, Julia Dumin, a pensar que é super azarada. Outro dia, estava tendo uma feira de carreira voltada para os alunos da Engenharia no campus da Chungnam National University (CNU). Eu, como sou curiosa, decidi participar e convidei Julia e uma outra colega chinesa, a Xie Xue Xia, para fazer algumas das atividades. Havia uma brincadeira que dava prêmios se você acertasse o alvo. Assim que vi, corri com elas para jogar e checar se conseguiamos algo. Havia brindes para quase todos os números, menos o 0 e o 4. Eu e Xie Xua acertamos o 3 e ganhamos um lencinho umedecido, mas o dardo da Julia foi parar logo no 4. Só que ela não sabia da tetrafobia e ficou toda triste pensando por que, mesmo sendo um algarismo a mais que o nosso, ela não ganhou nada. Isso significa que o número, além de causar medo, ainda pode te dar prejuízo. Que morra o quatro!  

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Outono: overdose de festivais coreanos

Fiquei um bom tempo sem postar nada, mas estou de volta. E, durante esse período em que fiquei fora, estive ocupada estudando, andando mais de 200km de bicicleta (cansativo, mas, pelo menos, consegui completar o desafio do rio Geum - 금강), indo ao spa coreano (os onchon - 온촌) e pensando na grande quantidade de festivais que estão acontecendo por toda a Coreia esses dias. Setembro e outubro, por marcarem o início do outono e da época de colheita no país, são os meses mais propícios às festanças e aos feriados. E o legal é que os coreanos adoram essas celebrações.  Mesmo sendo muitas, todas as que fui estavam lotadas, como mostra a foto:
 

No meu curso de coreano, a professora havia anunciado que teríamos um dia de atividades culturais na semana passada. Não sabia exatamente o que iríamos fazer, mas, no dia, descobri que seria um passeio ao Festival de Medicina Tradicional de Sancheong, cidade onde fica localizada a segunda montanha mais alta da Coreia do Sul: o Jiri-san (a maior é o Halla-san, na ilha de Jeju). E, apesar de ser uma sexta-feira de manhã, tinha tanta gente que mal se conseguia andar. E o lugar era completamente incrível e didático! Valeu a pena a visita, que me fez conhecer muito mais sobre a medicina coreana (que é algo que tenho vivido diariamente e que vou explicar melhor mais para a frente).



  Foto: Takase Susumu

   Foto: Takase Susumu

   Foto: Takase Susumu

Além desse passeio, eu e meu noivo andamos de bicicleta no fim de semana por algumas cidades do centro-oeste do país e pude presenciar um dos festivais nacionais mais tradicionais: o Baekjae Cultural Festival. Para quem não sabe, Baekjae era um dos países que se juntou no processo de formação da Coreia. Mas é legal que eles ainda gostam de manter as raízes, com suas próprias vestimentas e pratos locais típicos. As comemorações começaram exatamente no dia em que passei por lá. Era início de tarde e a praça de exposições estava muito cheia. A parte boa é que os vendedores ofereciam amostras grátis bem generosas, o que fez com que eu experimentasse de tudo e ficasse alimentada.




 No caminho, ainda descobri vários outros festivais, como o de Buryeo, Iksan, ambos divulgando as delícias de sua agricultura e da culinária local. Já em Gunsan, na costa oeste coreana, havia um evento especial por se tratar do período de migração dos pássaros para o sul do país. Como há um observatório de aves famoso na cidade, o local estava oferecendo ingressos a um valor bem barato, com a possibilidade de apreciar uma grande diversidade de diversos tipos de animais, inclusive peixes, insetos e até coelhos e veados. Além disso, aqui em Daejeon, já teve festival de vinhos, de ginseng, de música, além de vários outros. Assim, fica difícil escolher o melhor ou o que fazer no fim de semana.