Translate

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A nova onda dos centros de saúde pós-parto (산후조리원)

Quando minha cunhada estava com seis meses de gravidez, meu marido me contou que ela já tinha reservado um centro de saúde pós-natal (산후조리원) e estava começando a pagar as prestações, que somadas chegavam a mais de 6 mil dólares. Foi aí que eu descobri o que era. Espécie de “resorts médicos”, com SPA, doulas e enfermeiras 24h à disposição e até limusines, esses locais têm sido cada vez mais comuns, principalmente em Seul. E é aí que as novas mamães têm preferido passar seus primeiros dias após o nascimento da criança, embora nem todo mundo possa arcar com as despesas. O preço varia entre 5 e 10 mil dólares.


Quartos lembram hotéis ou o conforto de casa
Em vez de seguir as antigas tradições coreanas e ir direto para casa, como mencionado em outro post, a mulher e o bebê ficam nos centros de saúde pós-natal com todo o conforto e ajuda necessários no início da vida materna e recebem o auxílio que precisam na recuperação física e emocional do estresse causado pelo parto. Esses centros oferecem uma estadia de cerca de duas semanas com tudo incluído: refeições, cuidados com a pele, massagens. Além disso, enfermeiras ficam disponíveis o dia inteiro tomando conta do bebê e dando as orientações necessárias sobre amamentação e outros cuidados. As visitas são restritas.

Já faz 18 anos que os centros de saúde pós-natal existem na Coreia. Em 1997, quando o primeiro desses centros foi inaugurado, a taxa de natalidade no país era uma das menores do mundo, com 1,3 filhos por casal. No início, era uma forma alternativa das doulas poderem exercer seu trabalho, mas acabaram se tornando centros para conforto das famílias. Mesmo com o valor elevado, existem filas de espera e precisam ser agendados com meses de antecedência.
Mamães recebem ajuda de enfermeiras e doulas
Em Gangnam, bairro de Seul conhecido como centro do mercado de luxo coreano, encontram-se os mais famosos desse gênero na Coreia: o Saint Park e o MH Postpartum Care Center. O primeiro conta com paredes de pedra, iluminação relaxante e um pavilhão luxuoso com tema de praias de Bali. As refeições são preparadas com ingredientes orgânicos e usam produtos para pele importados da Suíça, além do serviço de limusine (foto). O segundo oferece saunas feitas com hinoki, madeira japonesa usada em templos e palácios.

Foto: www.mygoyang.com

A mídia coreana tem divulgado essa como a mais nova onda do país a ser exportada, assim como o K-Pop ou os Kdramas. Com origem na Coreia, o modelo dos centros de saúde pós-parto é algo inédito no mundo e já começou a atrair a atenção de estrelas mundiais, como a atriz japonesa Koyuki Kato, que atuou em “O Último Samurai”, ao lado de Tom Cruise. E deve ter cada vez mais gente interessada nas facilidades proporcionadas por esses locais.
------------

Eu, particularmente, prefiro ficar em casa nesse momento. Por mais prático que seja, a mulher tem um instinto materno e pode pesquisar informações. Assim, mesmo sozinha e sem nenhuma ajuda, dá para se virar bem. E falo isso porque comigo aconteceu desse jeito. Meu marido me deu suporte na primeira semana e, depois que ele voltou a trabalhar na África, ficamos só eu e o bebê. Mas, para quem tem dinheiro sobrando, deve ser ótimo passar pelo período do pós-parto com todo esse aparato. Muito chic, gente!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Como funciona a medicina tradicional coreana

No meu primeiro semestre na universidade de Chungnam, fizemos um passeio para a Expo Internacional de Medicina Tradicional de Sancheong (foto), um evento grandioso que serve para apresentar detalhes de uma modalidade clínica coreana milenar, que tem um olhar diferenciado sobre as doenças, pensadas a partir do equilíbrio entre o corpo e a mente. Desde então, passei a conhecer um pouco sobre alguns tratamentos de saúde no país, marcados por acupuntura, ervas medicinais, além do fato de os médicos terem uma sensibilidade incrível de, apenas pelo toque no pulso do paciente, conseguir detectar anomalias em seu corpo. Outros ainda, por um aparelho que mostra detalhes da retina, podem até saber características psicológicas da pessoa. Nem preciso dizer que fiquei bastante impressionada.

Na Expo de Medicina Tradicional, um pouco dessa prática milenar

Dentre as diversas experiências que tive com a medicina tradicional coreana, no entanto, o ápice foi no final de 2013, um pouco antes de eu me casar. A família do meu marido nos levou para um vilarejo quase 3h distante de Daejeon para um check-up anual com um médico ancião (de 95 anos), que era um dos mais famosos do país. O consultório dele ficava no meio do nada e me lembrou muito aqueles mestres de artes marciais de filmes orientais, isolados em uma montanha meditando ou algo do gênero. Esse senhor, que mal escutava direito, ao avaliar meu pulso, já ficou com uma cara de preocupado e disse que eu tinha um monte de problema de saúde: de circulação, coração, etc. Quando me questionou sobre minha menstruação e eu o informei que ela era irregular, ele constatou que essa era a causa de tudo.

O médico, então, me passou um tratamento com ervas medicinais, com custo de mais ou menos 400 reais, para reparar essa anormalidade.  Enquanto isso, meus sogros gastaram mais de 1,5 mil reais, cada, com outros remédios indicados por ele para se manterem saudáveis. A questão foi que, pouco mais de um mês depois, eu descobri que estava grávida. Minha sogra chegou à conclusão de que esse senhor é bom para tratamentos de fertilidade e o indicou para minha cunhada, que já estava tentando ter filhos há mais de dois anos, sem sucesso, e tinha sofrido um aborto pouco tempo antes. Coincidência ou não, no mês seguinte, ela também descobriu que estava esperando uma linda menininha, que nasceu no início desse ano.

Ervas medicinais no consultório de ancião no interior da Coreia

Coreanos se orgulham muito de sua medicina tradicional e costumam confiar bastante nela. Por isso, há diversos centros que praticam esse modelo espalhados pelo país, conhecidos como 한의원 (lê-se haneu-won). A família do meu marido costuma ir, pelo menos, uma vez ao mês, até para relaxar e tentar curar certas dores causadas por estresse e outros problemas do dia a dia. Eu frequentei esses lugares algumas vezes e tive uma ótima experiência. E acaba não saindo tão caro, porque os planos de saúde cobrem parte dos custos. Mas, mesmo tentando manter as origens, desde 1876, o sistema de saúde europeu, com hospitais em estilo semelhante ao do Brasil, vem sendo utilizado na Coreia, conforme já dito em outro post.

Teoria médica coreana

Baseada em uma mistura de ideias taoístas e confucionistas, a teoria médica coreana é focada em quatro componentes básicos do universo: natureza, humanidade, temperamento e vida. E também são quatros os fatores que compõem o ser humano: uma pessoa mais yang, mais yin (aqueles tristes ou com raiva), menos yang e menos yin (aqueles com características mais felizes), de acordo com o temperamento e personalidade de cada um. Além disso, também é aplicado o método curativo, que se baseia na noção de que o equilíbrio do corpo está ligado à mente. Por isso, ervas medicinais e acupuntura são algumas práticas geralmente utilizadas para tratamento a partir dessa concepção.

A prática da medicina tradicional coreana antigamente

Existem alguns tipos diferentes de centros de medicina tradicional. Atualmente, a maioria deles é composta por médicos que iniciam a análise do paciente pela medição do pulso. Alguns anciãos são famosos pela sensibilidade em, apenas pelo toque, perceber onde há um desequilíbrio que possa vir a dar origem a uma doença ou, no caso de quem já está enfermo, de encontrar as causas disso. Alguns locais mais modernos usam um aparelho que avalia, pela retina do paciente (foto), quais são os problemas da pessoa, não somente físicos, mas também psicológicos. Por meio da coloração, forma e de riscos encontrados dentro do olho, é possível saber características como se aquele indivíduo é nervoso ou calmo e até detectar doenças mais graves, como câncer.

Mapa da retina em um hospital de Daejeon

Qual a diferença entre a medicina coreana e a chinesa?

Existem três fatores principais que diferenciam a medicina tradicional coreana da chinesa. O primeiro deles é a forma como cada um observa as pessoas: os chineses, de fora para dentro, enquanto que os coreanos pensam nos fatores internos como mais importantes que os externos. A segunda diferença está nos 보약 (boyak), remédios que os coreanos tomam quando estão fracos e pálidos, sendo o ginseng o mais famoso deles. A junção da mente e do corpo para considerar um tratamento ideal é o terceiro e último fator de divergência entre os coreanos e chineses.  Heo Joon, um dos pais da medicina coreana, acreditava que o ser humano não pode viver sem a natureza e que tudo o que existe no mundo nos afeta de alguma forma.