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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Como se formam nomes coreanos

Pode parecer meio louco, mas já faz dois anos que eu e meu marido (na época, ainda noivo) já tínhamos decidido como nossa futura filha iria se chamar. Escolhemos o nome Hana (하나) por significar “primeira” em coreano e por soar bem em português. Quando descobri que estava grávida, ainda sem saber o sexo, comecei a pensar também em alguma opção masculina que pudesse ser genérica para os dois países. Na tentativa de formular nomes e mais nomes, percebi que não seria tão fácil assim. Quando mostrei a lista que havia feito para a minha sogra, ela gargalhou e veio me explicar que, sendo homem, o bebê teria que seguir a tradição da família e ter a sílaba “seob ()” no final do nome, assim como as outras crianças da mesma geração. Resumindo, o menino, sendo tanto brasileiro quanto coreano, precisa ter dois registros com nomes diferentes, o que não seria necessário se fosse menina.
  
Nomes coreanos têm apenas três sílabas, sendo a primeira delas o sobrenome

Foi quando eu constatei o quanto os clãs ou shijok (씨족) são importantes na Coreia. Os coreanos são um dos povos que mais preserva suas raízes e essa noção de ancestralidade. E se dividem nesses grupos. Meu marido disse que eles sabem exatamente a que geração da família pertencem pelo nome e isso fica registrado em um livro, em que vão acrescentando os novos integrantes de acordo com o nascimento dos filhos, netos, bisnetos. Cada homem que nasce dá continuidade ao clã. Há, assim, uma tradição de que o primeiro filho seja, preferencialmente, do sexo masculino, já que, culturalmente, a mulher passa a pertencer ao clã de seu marido quando se casar. E, infelizmente, existem mais homens que mulheres na Coreia porque a quantidade de abortos é ainda grande quando descobrem que é menina.  Por isso que o obstetra coreano relutava em me dizer o sexo do meu bebê e, foi com alívio na voz, que anunciou que era menino.

No "Parque das Raízes" (뿌리 공원), o símbolo do clã do meu marido

Aí, surgiu a questão de escolher o nome da criança, o que não tinha muitas opções, já que havia sido escolhida a última sílaba do nome dele. Sendo o meu bebê integrante da 32ª geração dos Choi (ou ), todos os seus primos e irmãos teriam que incluir no nome o Seob ( ou), que significa harmonia ou combinação. O problema é que há poucas combinações legais com essa sílaba. E acabou sendo escolhido o nome Min Seob (민섭). Esse sistema é adotado para indicar as gerações de cada clã, tornando mais fácil o resgate das histórias deles. E isso diz muito sobre um povo marcado pela “cultura do coletivo”, que sempre pensa no conjunto.  E aí, o bebê, nascendo no Brasil, levaria o nome que eu escolhesse, que no caso foi Alan (soa que nem em inglês), por ser uma opção mais internacional. Como temos planos de morar em outros países, achei que seria a alternativa ideal.
               
Como formar nomes coreanos
           
     É engraçado que nunca disse isso, mas existe uma métrica para formar nomes coreanos. O meu, por exemplo, tem quatro sílabas, o que é considerado muito longo para o estilo deles, que segue um padrão definido bem curtinho, super diferente do que a gente tem como referência: primeiro, vem o sobrenome da família do pai, ou nome do clã, de apenas uma sílaba, como Lee (), Kim (), Park (), Choi (), etc.; em seguida, aparece o nome, que pode ter até duas sílabas, mas existem alguns com apenas uma e, em casos raros, com três, embora não sejam muito aceitos por eles, por serem considerados “difíceis”. Coreanos têm um pouco de aversão a nomes longos. Por isso, o meu foi reduzido a A-ri-an (아리안), embora minha sogra me chame de A-ri-a (아리아). Quanto menor, melhor.
                Uma nova tendência, no entanto, tem surgido com a influência da cultura europeia e americana na Coreia. Para as meninas, nomes como Suzi e Jéssica têm se tornado mais comuns. Em relação aos homens, por causa daquela questão do clã, eles inventam um nome em inglês ou outro idioma quando conversam com estrangeiros. Meu marido, por exemplo, eu conheci como Jerry, mas o nome dele na Coreia é Byung Kyoun (병균), que foi escolhido na mesma linha da geração do clã (todos os primos levam esse Byung no nome), e foi causa de muito bullying na infância dele, porque essa palavra significa exatamente germes ou vírus. Tadinho, toda vez que a gente ia em alguma consulta médica na Coreia e eu entrava com ele, éramos obrigados a ouvir dos médicos alguma piadinha com o nome dele. Fico pensando como deve ter sido quando ele era menor.

Nomes ocidentais como Jéssica têm sido mais comuns na Coreia

Enfim, já sabe que se você conheceu um coreano chamado Matt, Jack, Juan ou qualquer coisa parecida, provavelmente, ele inventou ou recebeu sugestão de algum professor de inglês. A minha cunhada, por exemplo, se apresentou como Reese, embora o nome verdadeiro dela seja outro. Confesso que eu ainda não decorei como ela se chama porque, até para mim que estou aprendendo o idioma, os nomes coreanos são muito complexos. Foi um sacrifício decorar os nomes dos meus professores. E meus colegas chineses? É engraçado que existe uma regra também para converter os nomes chineses para o coreano.

Na Coreia, eles costumavam usar antigamente os mesmos caracteres dos chineses. Mas, há mais de 600 anos, um rei criou o hangeul (한글), sistema de escrita coreano, cuja data de criação é tão importante que virou feriado na Coreia (e foi nesse mês, dia 9 de outubro) [ver foto]. Isso significa que os coreanos ainda aprendem na escola esse sistema chinês, chamado de hanja (한자), só que a forma de leitura foi adaptada ao idioma deles, ou seja, tem um som diferente. Por isso, quando os chineses vão para a Coreia, eles passam a ser chamados pela forma como se lê lá. Assim, minha amiga 雪霞 (Xue Xia) ganhou o nome de Seol-ha (설하) na Coreia; Lin Zin virou Im Jong (임정) ; Wan Yin passou a se chamar Man-eun (만은). Raros são os nomes que mantêm a pronúncia do chinês, que é muuuuito diferente da coreana. Por isso, para quem achava que era a mesma coisa, eu já aviso que não é.

Evento promovido pela prefeitura de Daejeon  no dia do Hangeul em 2013

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                Bom, desculpa ter demorado tanto (mais de um mês) para postar algo novo, mas é que a rotina cuidando praticamente sozinha de um bebê recém-nascido, somada ao trabalho home office e aos estudos da faculdade estão um pouco puxado para mim. Mas, agora que eu já me adaptei e que meu pequenino está quase com um mês de idade, acho que consigo postar com mais frequência. Semana que vem, explico como faz para registrar um baby nos dois países e, talvez, mais para frente, em relação a como obter a nacionalidade coreana. Além disso, agora estou atualizando o site BrazilKorea e fiz um post parecido com esse lá. Quem quiser conferir, é só acessar aqui.

6 comentários:

  1. Sozinha com o bebê?!?! No Brasil ou na Coréia? Parabéns pelo blog e pelo bb!

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    1. Sozinha entre aspas, Luciane. Estou morando com meu pai, no Brasil, enquanto o Jerry trabalha na África. Só volto para a Coreia ano que vem. E obrigada! :D

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