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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

10 fatos curiosos e interessantes sobre gravidez e maternidade na Coreia

Todo país tem seus costumes em relação à gravidez e ao que se pode fazer ou não assim que o bebê nasce. No Brasil, tem gente que diz que a mãe não pode lavar a cabeça depois do parto. E existem várias teorias e superstições tanto para a gestação quanto para o período do resguardo. Não é tão diferente na Coreia,  onde há diversas crenças e regras para o estágio entre esperar o bebê e o início da maternidade.

Por isso, eu preparei uma lista com dez fatos interessantes ou, no mínimo, curiosos sobre tradições coreanas para esse momento. Algumas são antigas e não são mais seguidas à risca. Outras, são mantidas com bastante rigor. Uma coisa que eu não mencionei, no entanto, foi que eles não têm o costume de fazer o enxoval do bebê muito antes dele nascer, só no final da gestação ou depois que a criança veio ao mundo. E segue a lista:

Cartaz de "Fated to Love you", novela coreana
que conta a história de uma jovem
que engravida de um desconhecido
1) Dez meses: Por causa do calendário lunar, os coreanos dizem que a gravidez dura dez meses. Cada mês, por essa perspectiva, conta com exatas quatro semanas. Assim, alguns bebês podem nascer até de onze meses, quando passam das 40 semanas, ou seja, do tempo médio esperado para a criança vir ao mundo. Se você disser na Coreia que nasceu de nove meses, eles vão achar que você é prematuro.

2) O anúncio: Anunciar a gravidez não é uma tarefa muito simples. Existe, culturalmente, uma ordem a ser seguida. Primeiro, a mulher deve contar para a sogra. Só depois informa ao marido e os próprios pais serão os terceiros a saber. Geralmente, por causa dos riscos de aborto até o terceiro mês, o anúncio para os de fora desse círculo familiar mais próximo só acontece a partir das 12 semanas de gestação, assim como muitos fazem no Brasil.

3) Comidas: A alimentação das grávidas tem diversas restrições. Coreanas costumam evitar comidas que não estejam íntegras, ou seja, quebradas ou desmanchadas, porque existe uma superstição de que o bebê pode ter má formação. Há também algumas crenças de que, se as mulheres comerem muito frango, a pele da criança será ruim, e se ingerirem carne de pato, o bebê vai falar que nem um. Além disso, certos alimentos podem fazer o parto ser mais complicado, como caranguejo, lula, ovos e peras. P.S.: Eu não sabia disso e tive vários desejos de comer lulas flambadas na Coreia. 

4) Comidas (2): Outra questão relacionada à alimentação é que, assim que o bebê nasce, a nova mamãe costuma ficar um mês inteiro apenas comendo sopa de algas ou miyeok-guk (미역국, foto). Eles dizem que esse prato ajuda na produção do leite materno, assim como na desintoxicação do corpo e limpeza do sangue da mulher para uma melhor recuperação. Depois do nascimento, também não é recomendável ingerir comidas frias ou congeladas, porque eles acham que pode causar artrite.

Coreanas comem sopa de alga por um mês depois que o bebê nasce

5) Filho homem: Por uma questão de manutenção das linhagens dos clãs, como eu já mencionei anteriormente, os coreanos esperam que o primeiro filho seja do sexo masculino, pois será ele que carregará o nome da família. Como não há a criminalização do aborto na Coreia, era comum (e pode acontecer até hoje) que abortassem quando detectassem que era menina. Por isso, existem mais homens que mulheres no país. O meu ginecologista mesmo ficava me questionando sobre o motivo da minha curiosidade para saber o sexo da criança. Quase respondi: “calma, doutor, só é um costume brasileiro preparar o enxoval desde cedo”.

6) Limpeza, beleza e silêncio: Coreanos acreditam que a mulher deve se manter limpa durante a gravidez. Por isso, ela deve evitar encostar em urina, fezes e coisas, pessoas ou animais mortos. Ir a enterros, por exemplo, não é muito auspicioso. Outra superstição é que, durante o parto, a mulher não deve olhar para coisas feias, pois a criança pode nascer assim. Além disso, aquelas que gritam quando estão dando à luz são vistas com maus olhos. A gestante deve se manter em silêncio e focar sua energia no nascimento.

7) Sonhos e espíritos: O poder dos sonhos é algo muito apreciado na cultura coreana. Para eles, se alguém sonha com flores no período da gestação, a pessoa terá um menino; se sonhar com frutas, no entanto, ela estará esperando uma menina. Quando a criança nasce, eles também costumam pendurar um "kumchul" (금줄, foto), que é uma corda trançada com alguns patuás, no portão de casa para proteger o filho dos maus espíritos.

O kumchul é colocado na porta de casa
 depois que a criança nasce

8) Parto normal: Na Coreia, há um estímulo ao parto normal. E a cesárea é mal vista pela sociedade. Como a taxa de fecundidade vem caindo nos últimos anos, já que as mulheres têm preferido focar na carreira a ter filhos, o governo oferece diversas formas de benefícios para as gestantes, inclusive um cartão (foto) que cobre quase todas as despesas do pré-natal, inclusive ultra em 3D, e do parto, se for normal, conforme eu já havia dito em um post. No entanto, se for cesárea, a pessoa terá que arcar com quase todo o custo do procedimento, que pode chegar a cerca de R$12 mil.

Cartão para gestantes com cerca de R$1 mil para usar no pré-natal

9) Reclusão: Durante os três primeiros meses da vida do bebê, a nova mamãe fica reclusa em casa e só sai para ir ao médico. Além disso, nesse período também deve ser evitado qualquer esforço, como cozinhar, tarefas domésticas e fazer compras. Também não é recomendável que ela tome banho por uma semana depois do parto. Por isso, geralmente, a avó materna da criança fica junto esses três meses dando suporte e ensinando como cuidar do novo membro da família.

Como dito no post anterior, não é comum receber visitas até os 100 dias do bebê, e é nessa data que a criança é apresentada aos parentes. Hoje em dia, virou moda entre as mamães de primeira viagem ficar internada por até um mês em centros de saúde pós-natal (산후조리원, foto), onde elas têm uma equipe que dá todo o suporte nos primeiros dias com o bebê, mas vou falar disso num próximo post.

A nova moda dos centros de saúde pós-natal

10) Placenta e cordão umbilical: Alguns coreanos guardam a placenta depois do parto para ser ressecada e utilizada como chá, meio parecido com a moda das pílulas de placenta, que algumas tomam em países europeus e americanos porque acreditam que ajuda numa melhor recuperação depois do parto. Enquanto isso, há outro grupo de coreanos que a enterra em algum local perto de casa, quando querem ter mais filhos. Se já tiverem crianças suficientes, também podem enterrá-la em algum lugar longe de casa. A família também enterra o cordão umbilical.

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Ainda há outros aspectos interessantes desse período. A rede médica coreana é excelente e eu não tenho nada a falar de ruim sobre meu pré-natal. Como eu sou estrangeira, só me disseram que não é bom ir às consultas sozinha, por causa do preconceito de alguns atendentes. Então, geralmente, a minha sogra me acompanhava, já que meu marido estava trabalhando em outro país. Além disso, os partos geralmente acontecem em hospitais ligados a universidades, mas há também pequenos centros de saúde que dão suporte no parto normal, assim como é possível contratar doulas para isso ou ter a criança em casa (algo mais comum no interior). Espero que tenham gostado.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Os 100 dias de vida de um bebê coreano

Antes do nosso bebê nascer, a primeira recomendação que recebi do meu marido foi: não fique tirando fotos da criança até ela completar 100 dias. Quando questionei o motivo, ele explicou que os coreanos têm o costume de não apresentar os filhos para parentes e amigos até esse marco, quando já se passaram mais de três meses de vida. É porque, na Coreia, as mães e recém-nascidos ficam esse tempo sem sair de casa por causa da fragilidade dos dois, com medo de adquirir doenças. Foi quando percebi o simbolismo dessa data, que permanece até os dias de hoje.

Os 100 dias de um bebê são marcados por muita comida
e uma sessão de fotos
Foto: Lee Doval
Há várias teorias que explicam o início da tradição dos 100 dias, chamada de Baek-il (백일), seguida não somente na Coreia, mas também em outros países do Leste Asiático, como China e Japão. Antigamente, muitos bebês morriam antes dos três meses, quando a medicina não era tão desenvolvida. Assim, quando chega o 100º dia de vida do bebê, as famílias fazem uma grandiosa festa, quase tão importante quanto a de um ano (também celebrada bastante na Coreia) e eles convidam uma grande quantidade de pessoas. Acredita-se que, se você dividir alguns pratos especiais com 100 pessoas, os filhos terão uma vida longa e saudável. 

Existem dois momentos principais da festa mais tradicional. O primeiro é quando membros da família dão graças aos três deuses que cuidam da vida do bebê enquanto ele cresce, chamados de Samsin (삼신). Depois, numa segunda etapa, eles rezam para que a criança tenha riqueza (재악), vida longa e sorte (초복). E quatro pratos não podem faltar: baekseolgi (백설기), representando o frescor e limpeza; injolmi (인절미), para dar paciência, songpyeon (송편), para bons pensamentos; e susupo-ttteok (para evitar maus pensamentos).
 Baekseolgi (백설기), bolos de arroz decorados Foto: jaiso.com
Injolmi (인절미), mais bolos de arroz com recheios e coberturas diferentes
Foto: 
uifarm.com
Songpyeon (송편), bolos de arroz usados no Ano Novo lunar
Foto: 
blog.daum.net
Atualmente, foram acrescentados outros costumes que marcam a data, como é o caso de uma sessão de fotos da criança. Nessa geração da Internet, divulgação de imagens é fundamental. No entanto, por ficarem esses 100 dias sem poder mostrar o bebê, acabou se tornando essencial como forma de apresentação dele para o mundo. Geralmente, ela se veste com roupinhas fofas, tradicionais, vestidinhos, no caso das meninas e terninhos, quando meninos.

As fotos dos 100 dias podem ser bem criativas ou simplesmente fofas
Foto: Lee Doval

Também são apresentadas, geralmente, algumas comidas à criança, como bolo de arroz, sopas e frutas, porque eles acham que é a partir desse momento que ela pode começar a se alimentar de outras coisas além do leite materno. Outra tradição comum é dar anéis ou pulseiras de ouro 24k ao bebê e, depois, quando a criança crescer e não couber mais nela, o acessório é transformado em uma jóia para a filha (se for menina) ou para a futura esposa do filho (se for menino). Além disso, um costume que também foi mantido é o de raspar a cabeça da criança nessa data para que o novo cabelo possa crescer mais forte e com mais rapidez. E cada família ainda pode criar suas próprias tradições. É uma festa realmente muito rica.