Uma das coisas que os coreanos mais têm orgulho é da estrutura
médica à disposição deles. E, realmente, eles têm bastantes motivos para isso.
Poucos países no mundo têm um sistema único de saúde como o da Coreia. Não é gratuito
nem tão democrático quanto o brasileiro, mas funciona perfeitamente bem. Desde
janeiro, quando casei com o Jerry, tenho direito a utilizar esse “SUS” ou NHI
(National Health Insurance), como eles chamam. E fiquei apaixonada principalmente
pelo fato de que o usuário pode visitar praticamente qualquer hospital ou
instituição de saúde do país (públicos ou privados), inclusive as de medicina tradicional coreana
(haneui-won ou 한의원, foto), acupuntura
e quiropraxia e o governo cobre até 70% dos
custos.
O
único problema é que não é de graça. Além de você ter que pagar 30% do valor
gasto, ainda é descontado um percentual do salário do chefe da família todo
mês, de acordo com determinada faixa salarial. Eu entrei como dependente do pai
do meu marido, já que o imposto é cobrado por residência e estávamos todos
morando na mesma casa. A melhor parte é que cada usuário tem direito a um
check-up gratuito completo, inclusive no melhor hospital coreano (foto), se a pessoa
quiser, a cada dois anos. Qualquer estrangeiro pode se inscrever,
principalmente os que trabalham ou estudam no país, mas quem não tem esposa ou
marido nativo paga mais impostos que os coreanos. Além disso, se alguém tiver filho no país, mas
enfrentar dificuldade para arcar com a taxa, o governo oferece um subsídio.
Hospital da Seoul National University (SNU), o melhor da Coreia |
Eu já tinha um seguro de vida
exigido para os estudantes da universidade que eu frequentava. Mas, até
janeiro, eu tinha que pagar valor integral sempre que acompanhava meu marido em
algum desses centros de medicina tradicional – sobre o qual vou falar com
certeza no próximo post. E foi muito fácil me inscrever no SUS deles. Só
precisei enviar por e-mail uma cópia do meu cartão de estrangeiro (ou Alien
Registration Card), da certidão de casamento e do registro familiar dos pais
dele com meu nome incluso. Na mesma semana, eles enviaram para a minha casa o meu
“cartão do SUS”. Interessante que, como meu nome é muito grande para eles, foi
reduzido apenas para Rodrigues (sobrenome por parte de mãe) e eu sempre esqueço
que sou eu quando sou chamada no médico.
Para quem está grávida, os benefícios são maiores. A taxa de
natalidade está caindo a cada ano na Coreia, por causa da maior independência
feminina e das mudanças no planejamento familiar. Isso significa que a quantidade de
filhos por família é menor que antigamente. Por isso, o governo incentiva bastante a fecundidade, oferecendo
um cartão no valor de 500 mil won (≅ mil reais), que pode ser usado
durante todo o período do pré-natal e financia integralmente as consultas,
exames, remédios, inclusive ultrassonografia em 3D. Em relação ao parto, a
cobertura é de até 500 mil won (≅ mil reais), apenas se for normal. Em
caso de cesárea, a pessoa tem que arcar com todos os custos, que podem chegar a
5 milhões de won (≅ 10 mil reais).
Caderneta do controle da gravidez no pré-natal, com o cartão dado pelo governo |
Um pouco de história
O governo coreano implantou esse National Health Insurance (NHI) ou Sistema Único de Saúde (SUS) em 1977, baseado no modelo japonês. Nesse intervalo de tempo, mesmo passando por problemas financeiros, o país conseguiu manter a qualidade da prestação do serviço e ainda ampliou seu alcance, No início, apenas instituições com mais de 500 empregados tinham direito ao subsídio do governo. Mas, até a década de 1990, todos os coreanos passaram a poder se beneficiar com essa ajuda. Durante a crise mundial em 1997, uma intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) causou um grande déficit, que foi sendo revertido nos anos seguintes. Hoje, a Coreia conseguiu alcançar determinada estabilidade para manter a qualidade dos serviços médicos oferecidos.
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É assim que funciona esse sistema, que permite ao usuário fazer uso de toda a rede de saúde do país, tanto pública quanto privada, mas não é gratuito como o brasileiro, embora seja acessível a todos. Só sai totalmente de graça na Coreia se a pessoa comprovar insuficiência de renda, o que, de certa forma, faz com que seja democrático. Os brasileiros nunca precisam pagar, mas também nem sempre conseguem atendimento de qualidade. É difícil comparar as duas realidades, por serem bem diferentes, até na questão populacional ou na extensão territorial, mas o Brasil tem muito a aprender com a Coreia em relação à excelência dos serviços, algo que eles prezam muito e que não se importam se é preciso arcar com alguns custos disso.
Muito interessante o seu blog! Gostei muito de saber como é o sistema de saúde na Coréia do Sul. Parabéns pelo blog.
ResponderExcluirQue bom que gostou, Cris Li. Se tiver algum assunto que esteja curiosa, é só falar.
ResponderExcluirNossa que interessante!! Amo ler sobre o período gestacional da mulher, pois faço enfermagem e amo a cultura coreana. Descobri seu Blog agora e não largo mais. rsrsrs Você saberia se é possivel fazer enfermagem obstétrica ai?
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